Fachada
A atual fachada da igreja foi iniciada em 1787, tendo como diretor das obras e seu artífice, o grande mestre português Francisco de Lima Cerqueira, que na ocasião trabalhava na construção da Igreja de São Francisco de Assis. Seu conjunto talvez exceda em "equilíbrio e perfeição de desenho à de São Francisco, não sendo tão rico em ornatos e trabalhos" (Rodrigo M. F. Andrade, Prefácio do livro de Zoroasto Passos, "Em torno da História de Sabará"). Sua fachada figura como exemplo de templo mineiro da época das grandes construções no livro de Miram de Barros Latif: "Minas Gerais", tem comprimento de 50 metros por 16 de largura, na parte externa.
Aos lados do corpo da igreja encontram-se duas amplas galerias, com parte assobradada e amplas salas, guarnecidas de sacadas, na parte de cima e janelas e portas na parte térrea, dando para o exterior. Duas janelas, rasgadas nas salas superiores, dão para o interior do templo, como tribunas.
A frontaria é mais baixa que a da Igreja de São Francisco de Assis. As torres são pouco mais altas que o frontão, que tem por moldura volutas e contravolutas, que graciosamente se encontram no centro. É encimado, bem no centro, por uma cruz de acanto apoiado em uma esfera, tudo em pedra azulada. Esse conjunto é considerado uma obra prima da cidade.
A parte central da fachada é delimitada por duas pilastras de pedra azul ornadas de capitéis que sustentam o entablamento e cornija que se elevam ao centro, para dar lugar a um óculo redondo envidraçado, separando o frontispício do frontão e das sineiras e duas grandes janelas com as padieiras ornadas com bonitos florões que descem um pouco pelas ombreiras, dando claridade ao coro. A balaustrada da tribuna do coro é em linha curva saliente bem pronunciada. Mais para os lados outras pilastras formam as bases da torre, no entablamento, logo abaixo das sineiras da frente, existem dois mostradores de relógio. Abaixo do peitoril existem também artísticos enfeites.
As torres, desde as bases até as cúpulas sustentadas por prolongamento das pilastras e nova cimalha, são em formato octogonal, com frestas abertas nas arestas, o que é considerado raro na arquitetura colonial. As cúpulas em forma bulbar terminam por uma coroa armilar e cruz de metal.
A portada é uma obra de arte esculpida em esteatita e de apurado gosto com ornatos que se distribuem harmonicamente por toda sua estrutura. As colunas que se encontram nas ombreiras têm o fustes formados de volutas e contravolutas, no terço superior encontra-se uma cabeça de querubim alado, assentados sobre os capitéis acham-se anjos com asas de manto, que sustentam escudos e bentinhos.
No escudo da direita está inscrito: GLORIA LIBANI DATA EST EI. No da Esquerda: DECOR CARMELI & SARON. A verga tem formato de arco abatido composto de pequenas volutas laterais que se encontram na parte central num pequeno arco. Sobre esta parte, bem no centro, emerge uma cabeça de anjo, enquanto na de São Francisco são três.
Um medalhão de Nossa Senhora do Carmo muito bem esculpido e artisticamente disposto está colocado no meio da portada. Nossa Senhora do Carmo tem como resplendor um círculo, tendo ao centro uma estrela. Tem o Menino Jesus no braço esquerdo e segura com a mão direita um escapulário, o diadema do Menino Jesus tem a originalidade de ser feito de pequenas conchas unidas. Arcanjos entre nuvens estão aos pés da imagem de Nossa Senhora do Carmo.
Logo abaixo da medalha há um delicado escudo da Ordem do qual se desprende uma fita com a inscrição: "DOMINUS-IN-SION-MAGNUS-MARIA-MATER-EJUS-IN-LIBANO".
Completando esse conjunto artístico da portada, encontra-se a figura austera e delicada do Pai Eterno e o Divino Espírito Santo, em forma de Pombo, com querubins e festões floridos que enfeitam os contornos da medalha. Tem como remate uma artística coroa, saliente.
O interior do templo está dividido em coxias e há dois altares de cada lado do corpo da igreja. Dois outros altares se encontram localizados no Cruzeiro. No presbitério, no alto, está o altar-mor. Os altares do corpo da igreja são em estilo simples e pintados de branco. Só os que ficam ao lado do arco-cruzeiro são dourados. Os altares laterais do corpo da igreja e este grupo foram entalhados pelo artista sanjoanense Joaquim Francisco de Assis Pereira, assim como a imagem de Cristo atado à coluna.
Apoiado na cimalha, que corre por todo o corpo da igreja, e bem no centro do arco-cruzeiro, está um escudo, ornado de volutas, que tem em seu campo central o emblema da Ordem Terceira do Carmo. É ladeado por dois grandes anjos. Um grupo escultural, no teto abaulado da grande nave, representa o Santo Padre o Papa João XXII recebendo de Nossa Senhora do Carmo a inspiração da Bula Sabatina.
Os púlpitos, localizados entre os altares das coxias são peças de grande valor artístico com ornatos delicados e cabeças de cinco querubins e cobertos por bonitos e burilados dosséis, que em sua parte superior sustentam um Anjo com trombeta, para anunciar a todos os quadrantes as verdades do Evangelho. Na concavidade do quebra-voz encontra-se esculpido o Divino Espírito, inspirador e assistente permanente da Igreja.
As grades das coxias, assim como a Mesa da Comunhão, são torneadas em madeira de lei e com artísticos balaústres.
Entre duas grandes janelas, de cada lado, que iluminam o interior da pequena nave, estão colocadas telas de suave colorido do pintor Jorge-Grimrn. Foram pintadas em 1879, pela quantia de 530$000 réis. Uma representa a Transfiguração do Tabor e a outra Arrebatação de Santo Elias, em carro de fogo, deixando seu manto para Santo Eliseu.
A capela-mor é espaçosa e tem a singularidade de possuir duas portas que comunicam com outros cômodos laterais, o que não acontece nas outras igrejas. Suas paredes são guarnecidas de colunas meio embutidas ornadas de anjos e finos recortes esculpidos, assim como as pilastras do arco-cruzeiro e seu intradorso.
A capela-mor é ladeada à direita por uma sacristia e à esquerda pela Capela do SS. Sacramento. Pelos fundos encontra-se o Definitório, o teto da capela-mor, em forma de sarapanel, é ornada de frisos artisticamente enfeitados que descansam sobre a cornija e um florão central de onde pende rica lâmpada de prata. Os artísticos trabalhos em madeira da capela e altar-mor e dos púlpitos são de autoria do artista Manuel Rodrigues Coelho.
0 altar-mor é muito bonito. Seu retábulo é mais simples e sóbrio, sem excesso de ornamentação. Suas colunas são em fuste estriado com capitel da ordem compósita e se encontram uma de cada lado da abertura do trono. Entre essas colunas e pilastras estilizadas quase junto às paredes laterais estão as peanhas com dossel e fundo de cortinas onde se encontram as imagens de Santo Elias e Santa Teresa de Jesus. Uma rica e burilada banqueta de prata ornamenta o altar-mor, menor que a da Catedral, mas muito bonita.
Para chegar ao supedâneo deste altar sobe-se um lance de cinco degraus de pedras, que infelizmente foi picado e coberto de cimento em cor vermelho brilhante. Nesse plano do altar-mor estão dois personagens com escudos e seguram suportes de lâmpadas com lanças.
O arco da abertura do trono tem aos lados, na parte superior, dois anjos em tamanho natural, assentados em trabalhados consolos e em atitude de quem está abrindo uma cortina pendente de um dossel. Deixa ver três corações que simbolizam as três grandes virtudes irmanadas nos corações de Jesus, Maria e José. Como coroação do retábulo está a figuração da Santíssima Trindade, na Pessoa do Pai Eterno e do Espírito Santo que do alto assistem ao mistério da transubstanciação no altar.
Ao alto, dentro do trono, venera-se a bonita imagem de Nossa Senhora do Carmo. Esta imagem esculpida em Portugal, foi benta solenemente no dia 1º de maio de 1925, pelo Exmo. e Revmo. Sr. Dom Helvécio Gomes de Oliveira, Arcebispo de Mariana.
Na sacristia vê-se um bonito grupo representando o Calvário. Pertenceu ao Dr. Gomes da Silva Pereira, que o doou à Ordem, em testamento. O doador, falecido em 1º de maio de 1830 com 100 anos de idade, dizia ter em seu poder as imagens, há mais de 50 anos e que as mesmas foram trazidas de Portugal por sua mãe.
A capela do Santíssimo Sacramento foi inaugurada e benta no dia 26 de março de 1940. Tem um altar bonito e bem esculpido que pertenceu à antiga igreja Matriz de Rezende Costa, onde foi adquirida pela Mesa Administrativa da época. No camarim do altar está a imagem de Nossa Senhora do Carmo antiga, de roca e ricamente vestida.
0 salão do Definitório é mobiliado com mobília D. João V composta de mesa de oito pés artística e finamente entalhada, cadeiras de lindos espaldares e assentos acolchoados de veludo e diversos mochos também com assentos do mesmo material. O definitório serve também de museu onde se encontram várias cópias de telas de pintores célebres, desenhos coloridos em vidro, imagens antigas e o famoso Cristo Inacabado.
No definitório se encontra uma linda e artística imagem de Cristo morto em atitude de crucifixão, talhada em madeira, com dois metros de altura, é de artista desconhecido. As formas anatômicas desta obra de arte são de grande perfeição, notando-se as veias, músculos e tendões.
A imagem, segundo se supõe, teria sido encomendada para servir por ocasião das festividades do Descimento da Cruz, ao notar seu grande peso, não foi terminada, faltando os braços, que deviam ser articulados. Por essa razão é conhecida como Cristo inacabado.
O grande arquiteto brasileiro Heitor da Silva Costa, autor do Cristo Redentor, no Corcovado, foi quem, em visita à igreja, encontrando-a em uma de suas dependências, deu realce ao achado, aconselhando que se pusesse em exposição, pois era uma verdadeira obra de arte escultural.
Sua cabeça serviu de modelo a Estátua do Cristo Redentor, em bronze, erguida no Alto da Boa Vista, em Senhor dos Montes, aqui em São João del-Rei.
Trabalharam também na construção da fachada da igreja os artistas Agostinho Gonçalves Pinheiro, que serviu de mestre de obra, e o entalhador Luís Pinheiro, em certa ocasião foi consultor. Nas obras da torre e frontão foram consultados e talvez tenham trabalhado os artistas alferes Aniceto de Sousa Lopes e Manuel Machado.
As Mesas Administrativas da Ordem muito se preocupavam com o embelezamento e harmonia do conjunto deste maravilhoso templo, tanto assim que para a colocação dos púlpitos foram efetuadas consultas e comparações.
Em 1816, quando já deviam estar terminadas as principais obras da portada, desejando acabar as obras do corpo da igreja, a Mesa resolveu em reunião do dia 22 de junho mandar vir um Risco da "Côrte do Rio de Janeiro" para se continuar o corpo da Igreja e a capela-mor, sendo feito pelo melhor arquiteto que "na Côrte ouver". Foi escolhido o arquiteto João da Silva Muniz, mas não foram tomadas em considerações suas condições por exigir que a "obra do Fronte Espício que se acha feita" "devia ser abolida para principiar Arquitetura em plano nôvo; e de outra maneira" e por cobrar pelo risco 256$000 réis. Na mesma reunião de 13 de agosto de 1816, ficou resolvido que se continuasse a obra, depois de ouvidos os mestres João Antônio Fontes e alferes Valentim Corrêa Pais, pelo "Risco que elles aprezentarão" e com dois altares colaterais nos lados das paredes e tribunas.
Em 1824 tratava a Administração da Ordem em terminar o engradamento do forro do corpo da igreja, contratando para isso o Cap. José Antônio de Mesquita, que se prontificava a entregar toda a madeira em um ano.
Em 1855 houve grandes reformas principalmente no assoalho da igreja e forro e serviços na capela-mor. No dia 6 de julho de 1855 houve a bênção da imagem de Nossa Senhora do Carmo e da nova capela-mor, com Missa Cantada e Sermão. Em 1870 houve novamente obras no templo. Pinturas e algumas reformas foram efetuadas em 1920.