São João Evangelista, num dos nichos do Altar de São Lúcio e Santa Bona
Como na maioria dos grandes templos da época colonial, tem sete altares: o altar-mor e seis no corpo da igreja, sendo três de cada lado. Os altares da grande nave são de madeira muito bem burilados e dotados de um frontão alto. Todos seis são de madeira, burilados e dotados de frontão. Receberam revestimento em decapê branco. A Ordem pretendia dourá-los, mas não o fez. Posteriormente foram raspados, para maior realce do trabalho e do material empregado. Todos têm peanhas em seu retábulo, com dossel e camarim de trono. São iguais, dois a dois, ficando um em frente ao outro. O altar dos Bem Casados difere do seu parceiro de frente somente em uma peanha lateral. Em frente a cada altar lateral há um suporte com um lustre. O teto é em abóbada elíptica. Tem ao centro um florão de madeira esculpida, pendendo do mesmo um grande lustre de prismas de cristal. Na cimalha que sustenta o teto, encontra-se, contornando toda a grande nave, um varandim de balaustrada, com suportes para lâmpadas.
Ao lado direito de quem entra no templo, ficam os seguintes altares:
Ao lado esquerdo, ficam os seguintes altares:
Abaixo a descrição detalhada de cada um desses altares:
- do Amor Divino, representado por Cristo com o braço direito desprendido da cruz para abraçar São Francisco de Assis. Este altar é também dedicado a Nossa Senhora da Conceição. Nos nichos laterais são venerados: São Sebastião e São Geraldo. Em baixo da Mesa do altar, acha-se uma imagem de Cristo Morto; é uma verdadeira obra de arte, pela sua perfeição anatômica e encarnação. Foi adquirida em Portugal em 1906.
- de São Pedro de Alcântara, É uma escultura em madeira de grande peso. Logo abaixo está a efígie de Santa Teresa do Menino Jesus. Aos lados são venerados: São João Nepomuceno e São Boaventura.
- de São Luís, Rei de França, que fica ao lado do arco-cruzeiro. Uma imagem de São João Batista fica logo abaixo. Aos lados venera-se Santo Antônio de Pádua e São Domingos, fundador da Ordem dos Pregadores.
- de Santa Margarida de Cortona, o primeiro altar do lado esquerdo, fica em frente ao do Amor Divino. Tem embaixo da Mesa do altar, em abertura aí existente, a imagem do corpo de São Francisco de Assis. Aos lados do retábulo estão: São Francisco de Paula e São Bento, ao centro, a Sagrada Família.
- de São Lúcio e Santa Bona é o altar dedicado a veneração dos "Bem Casados". A talha deste altar foi feita em 1827. Veneram-se ainda neste altar: São João Evangelista, que tem na peanha esculpida uma águia, símbolo deste Apóstolo; Santa Rita de Cássia e São Pascoal Bailão.
- de São Francisco de Assis, patrono da Igreja fica junto ao arco-cruzeiro e pouco abaixo fica uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. Lateralmente vêem-se São José e Nossa Senhora de Lourdes.
A capela-mor, com cerca de 16 metros de comprimento por 8 de largura, tem a forma quadrangular e em linhas retas, enquanto o corpo da igreja tem as paredes ligeiramente curvas. O retábulo do altar-mor é de talha dourada, bem assim as saliências ornamentais do teto desta pequena nave. Os degraus que dão acesso ao plano mais elevado onde se encontra o altar-mor são de cantaria, assim como todo o piso. O frontão ou parte superior do retábulo compõem-se de bonita escultura em relevo, representando a Santíssima Trindade. Ao lado direito a figura de Jesus Cristo segurando uma Cruz, à esquerda a efígie de Deus Pai e encimando este grupo o Divino Espírito Santo, na forma clássica de uma Pomba. As colunas torças têm as bases em espiral estriadas e os fustos espiralados são ornados por festões dourados. Os capitéis finamente talhados coroam de forma magnífica este trabalho.
Um bonito e riquíssimo lustre, todo de cristal colorido, pende do centro do teto desta capela-mor. O único lustre igual a este, está no museu de Versalles, em Paris. Bonitas cadeiras de espaldar, unidas 4 a 4, servem para assento dos Irmãos nas funções religiosas.
Sobre colunas se apoia o arco simples da abertura do camarim do trono e o entablamento que corre pelas paredes laterais do presbitério, arqueando-se quando se aproxima do centro para dar lugar a dois óculos que iluminam o interior desta pequena nave. Nos nichos laterais da abertura do trono, formados pelas colunas, ficam as imagens de Santa Isabel, rainha de Portugal, e Santa Rosa de Viterbo. No primeiro degrau do trono se vê uma imagem, em tamanho natural, de Nossa Senhora da Conceição, com o pedestal ornado de anjos. No alto do trono está o quadro da estigmatização, representado pela imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo pregado na Cruz e pouco abaixo, ajoelhado, a figura de São Francisco de Assis recebendo as Chagas, lembrando a passagem da vida de São Francisco de Assis no Monte Alverne.
O arco-cruzeiro é composto de colunas poligonais, apresentando três faces com frustes delicadamente traçados e pedestais de pedra azul esverdeada. Sobre elegantes capitéis finamente lapidados está ajustado um arco de granito.
Os púlpitos são "balcões" que ficam "pregados" na parede da igreja e cabe uma pessoa dentro. Na igreja de São Francisco de Assis existem dois púlpitos, um de cada lado, são muito bem esculpidos, encimados por grandes estátuas em tamanho natural: Moisés, do lado do Evangelho e Inocêncio III, do lado da epístola. O púlpito do lado do Evangelho tem esculpido delicados quadros: na frente a "Anunciação" e lateralmente São João Evangelista e São Lucas. O outro púlpito é ornado na parte da frente com a figura de Jesus sustentando na mão esquerda um globo encimado por uma cruz e a mão direita apontada para o céu. Aos lados estão São Marcos e São Mateus. Chega-se aos púlpitos por escadas dentro das paredes laterais do templo. Estas escadas tem largura quase de um metro, o que dá idéia da largura das paredes de pedra da igreja.
Apenas um púlpito é usado. Atualmente, quase que não usa-se mais o Púlpito, apenas nas cerimonias muito importantes como o dia de São Francisco de Assis é quando o padre celebra de lá de cima.
Portada
Portada da Igreja de São Francisco de Assis
A portada é uma jóia de fino lavor de pedra. Serviu de modelo à grande "Custódia de Prata Cinzelada", que se encontra na Igreja da Boa Viagem, em Belo Horizonte, e mandada confeccionar para a procissão de encerramento do II Congresso Eucarístico Brasileiro, realizado em 1936, nesta capital.
As ombreiras da porta são feitas em um bloco inteiriço de pedra e como que formando linhas verticais escalonadas, acontecendo o mesmo com a padieira, em forma de arco abatido estilizado e adornado de mimosos ramalhetes. Ao centro estão três cabeças de anjos, dispostas em forma de trevo. No intradorso, bem ao centro, em continuação do trevo, formado pelas cabeças dos anjos, está esculpida magnífica obra de arte representando a face delicada de Cristo. Colunas encostadas às ombreiras da porta são ornadas, no terço superior do fuste, por pares de anjos, festões e tufos. Em sua parte inferior existe um monograma à direita e à esquerda e o número 774, ano do início da construção do grandioso templo.
Logo à entrada admira-se um grande tapa-vento, em bonita marchetaria de madeira. Tem a forma semicurva e veda por completo a entrada, quando se encontram fechadas as três portas deste tapa-vento. Duas portas dão para as escadas de pedra e em caracol que levam ao coro e torres. O arco do coro em sarapanel ou arco elíptico abatido, abrange toda a largura da igreja e sustenta a tribuna da música, que tem balaustrada de madeira torneada.
Uma coroa real, com uma pequena cruz, fica em cima deste conjunto artístico da fachada. Logo abaixo o Divino Espírito Santo, sob a forma de pomba, envia seus raios sobre a imagem da Imaculada Conceição, com resplendor de estrelas, que se encontra emoldurada em mimoso medalhão, cercado de delicados ornatos florais e anjinhos, sendo três como escabelo, em forma trifoliada invertida, aos pés da Virgem. Esse medalhão tem, na parte superior, uma fita graciosamente disposta com a inscrição: "Tota pulchra es, Maria, et macula originalis no est in te". Está como amparado por dois braços, com as mãos chagadas, que representam a Ordem.
Um pouco abaixo encontram-se dois medalhões menores, tendo o da esquerda para quem está de frente para a igreja o emblema da Ordem Terceira de São Francisco de Assis, e o da direita o escudo português, com seus castelos e quinas. São separados do de Nossa Senhora da Conceição por uma coroa de espinhos de esteatita azul artisticamente esculpida. Um cordão de São Francisco aí também se encontra. Na parte superior, ladeando esses emblemas, estão colocados dois anjos alados, enquanto que na parte inferior duas asas formadas de delicadas plumas lembrando as da cruz de Cristo, no Alverne. Esse todo se apoia em ornatos e esculturas barrocas, por cima da porta.
Dois anjos alados se encontram assentados nas voltas que arrematam as colunas da portada e cada um deles tem uma caveira em uma das mãos, enquanto que a outra se acha erguida. O do lado direito é o original e de pedra, o outro é de cimento, substituindo ao que foi quebrado e esculpido há uns 75 anos, em cimento. Infelizmente o anjo de pedra, atualmente, está com a perna direita quebrada.
Observe a diferença entre o anjo da direita e o da esquerda, é necessário dizer qual é o original?
A grande nave tem quatro portas laterais dando para o adro, duas de cada lado. Tem as ombreiras terminadas em voltas e as vergas de pedra azul adornadas de caprichosos desenhos esculturais, o mesmo acontecendo com as portas das torres. Uma traja estilizada, sob um dossel de pedra, forma um frontão que se apóia sobre as pedieiras das portas. Sobre cada uma das portas rasgam-se janelas alongadas e acima dos púlpitos estão duas aberturas curvilíneas de bonito efeito, com contornos de pedra azul, lembrando um trevo estilizado.
Duas telas enriquecem o conjunto artístico da capela-mor. Ao lado da epístola admira-se o quadro da Última Ceia, no momento da instituição da Sagrada Eucaristia. No lado oposto e em frente está a tela que lembra o beijo traidor de Judas, no Horto das Oliveiras ambas estão em moldura curva barroca.
Entrada para o Adro, as sombras das palmeiras formam as cordas de uma lira quando são 6 horas da tarde na primavera, a rua na frente do portão tem a forma da lira
Somente em 1871 foi que a Mesa Administrativa da Ordem de S. Francisco de Assis cogitou de dar começo à construção do adro da igreja. Em 22 de abril de 1872 foi colocada solenemente a primeira pedra, numa cerimônia de bênção.
Era para o adro ser inaugurado no ano de 1874, primeiro centenário da construção da igreja, como pode ser observado no paredão da escadaria, a inscrição "1874", mas só ficou pronta vinte anos depois, em 1894. A obra ficou meio parada de 1873, quando os operários pediram demissão, a 1877 quando, no dia 9 de novembro, a mesa mandou fazer em Lisboa a balaustrada de Pedra de Liz (mármore). Somente no dia 25 de fevereiro de 1881 que a balaustrada de mármore foi colocada. Em 1884 os serviços de Gabriel P. de Amorim foram novamente necessários para colocar uma boa parte dos balaústres que ficaram faltando. O ladrilhamento do adro foi concluído no ano de 1894. Em 1905 o portão de ferro e sua grade foram concluídos e a praça ajardinada. Há uns 70 anos foi concluída a balaustrada, aos lados da igreja partindo da afrontada até chegar ao nível do cemitério, mas esta feita com balaústre e pilastras de cimento, imitando as de mármore.
As torres, redondas e em número de duas, terminam em cúpula com balaustrada e são arrematadas em bola, que se adelgaça em ponta. Pilastras de pedra azulada as sustentam. Existe uma comunicação entre as duas torres por cima do telhado da igreja.
Nas sineiras estão os sinos (ver Linguagem dos Sinos), à direita para quem está na frente da igreja, os sinos grande, meão e pequeno. O sino maior foi fundido no Arsenal de Guerra, no Rio de Janeiro, em substituição ao anterior que havia rachado. Querendo aproveitar ainda o sino, foi tentado um processo de solda no mesmo Arsenal e colocado na Torre do lado esquerdo. Pouco tempo depois foi retirado, por não ter dado resultado o processo a que se submeteu. Mandado novamente para esse departamento do Ministério da Guerra, ficou parado por causa da 2a Guerra Mundial, sendo refundido e bento em março de 1961. Está agora solitário na torre do lado esquerdo. Este sino foi fundido pela primeira vez em 1830 aqui mesmo em São João del-Rei. Em 1939 foi refundido nas oficinas da R. M. Viação em Cruzeiro. Pouco abaixo das janelas das torres existem mostradores para relógios. No ano de 1903 existiu um relógio em uma das torres.
Entre as torres há um gracioso frontão que assenta sua base sobre um grande arco da cimalha e se desenvolve para os lados até encontrar-se em curvas e contracurvas, com as pilastras que sustentam as torres. É trabalho do artista são-joanense alferes Aniceto de Sousa Lopes, combinado, em 3 de novembro de 1809, para fazer o frontão, torres e o arco do coro, pela quantia de 675 réis por dia. O tímpano é esculpido com arte e gosto, tendo ao centro Jesus Cristo, em uma cruz de três pares de asas, pairando entre nuvens, e São Francisco, ajoelhado e de braços abertos, recebe as Chagas. Em sua frente está um cordeiro e um frade em oração. Sobre o frontão está plantada uma cruz de Lorena. Esse conjunto arquitetônico, entre torres, pousa em uma arquitrave de alvenaria arqueada ao centro para dar lugar ao óculo redondo envidraçado. Esta arquitrave por sua vez é sustentada por pilastras de magnesita, encimadas por capitéis estilizados. Aos lados do óculo, um pouco abaixo, estão duas janelas com ombreiras e dintéis de pedra, ornados de pequenos frontões delicadamente lavrados.
O telhado é ligeiramente curvo, a cumieira em forma de dorso arqueado, combinando com as paredes laterais do corpo da igreja, que são elipsóides.