NOMENCLATURA DE RUAS DE SÃO JOÃO DEL-REI

Sebastião de Oliveira Cintra

O historiador carioca Vivaldo Coaracy (1882-1945) publicou o notável livro "Paquetá - Imagens de Ontem e de Hoje" - 1965 - 2a edição, Livraria José Olympio Editora. A obra registra oportunos comentários sobre a nomenclatura da bela e celebrada Ilha dos Amores. Recolhemos na citada publicação, prefaciada pela escritora Raquel de Queiroz, os conceitos seguintes:

"É bem conhecido o desrespeito que, em nossa terra, as autoridades municipais manifestam pela toponímia urbana. Nomes tradicionais de logradouros, muitas vezes representando o traço que na memória do povo deixou um fato, um costume, uma figura, são alterados e substituídos por outros de duvidosa significação e sob o pretexto de homenagear personagens algumas vezes de transitória atuação na vida local, quando não lhe sejam de todos estranhos. É por isso sempre interessante recordar e registrar as denominações antigas ou populares dos logradouros de uma comunidade. São designações que evocam imagens do passado".

Em São João del-Rei, como em muitas cidades brasileiras, a maioria das ruas mudou de nomes várias vezes, dificultando a pesquisa. Existem nomes, impostos por decretos, desacompanhados de fortes justificativas, que o povo assimila com dificuldade; no caso, os nomes antigos são sempre citados. Tomou-se, certa ocasião, a iniciativa de colocar em placas de ruas os nomes dos respeitáveis pais dos senhores vereadores desta cidade. Para o cumprimento da condenável resolução houve, em alguns casos, a troca de nomes intocáveis.

Por solicitação da Secretaria de Cultura de São João del-Rei, então dirigida pela professora Terezinha de Abreu Rios, relacionei denominações atuais e antigas de algumas ruas desta "Briosa e Fiel" cidade. A Administração Municipal aproveitou substancial parte de meu estudo. O trabalho jamais objetivou a mudança de nomes de ruas mas tão somente relembrar os apelidos antigos. Para as despesas com a confecção das placas antigas, colocadas junto às atuais, contou a Municipalidade com a valiosa cooperação da conceituada firma John Somers, desta cidade.

Daremos dados sobre algumas ruas antigas de São João del-Rei, tudo sucintamente.

RUA PADRE JOSÉ MARIA - antiga Rua da Prata. Vários documentos comprovam que a Rua da Prata era conhecida com este nome há mais de duzentos anos. Em 1751 surge o nome Rua da Prata quando os irmãos Terceiros da Venerável Ordem de S. Francisco solicitaram ao Senado da Câmara a medição das terras que lhe foram concedidas. A irmandade Senhor Bom Jesus dos Passos fez pagamento em 1781, a Manoel Tavares de madeiras compradas para o Passo da Rua da Prata (cf. "Piedosas e Solenes Tradições de Nossa Terra" - Catedral do Pilar - 1983 -página 35 - de autoria de Monsenhor Sebastião Raimundo Paiva.).

Na referida via pública moraram, entre outros, o Barão de São João del-Rei, que hospedou o Imperador Dom Pedro II, o médico francês Gabriel André Maria de Ploesquellec, o médico Dr. Francisco José de Araújo Oliveira e o maes-tro Martiniano Ribeiro Bastos. Funcionou na Rua da Prata o Teatro de São João del-Rei (1837-1887), também citado pelo nome de Teatro da Rua da Prata. O nome atual homenageia a memória do padre-musicista sanjoanse José Maria Xavier (1819-1887).

RUA GETÚLIO VARGAS - Antiga Rua Direita. Já possuía o nome de Rua Di-reita em 1719, ano em que José Fernandes Silva compareceu ao Senado da Câmara para requerer licença para estabelecer açougue na referida rua, "pegado às ca-sas do sargento-mor Inácio da Costa Montalvão".

Em 1815 melhorou a Câmara o Beco da Cadeia, ao lado da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, possibilitando a ligação entre o Largo do Pelourinho e a Rua Direita. Trata-se da atual Rua Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho. A Rua Direita com suas assobradadas casas coloniais era habitada por pessoas de alto nível social e econômico. Chamava-se em 1883 Rua Duque de Caxias, conforme Resolução da Câmara. O periódico sanjoanense "O Repórter", publicou em sua edição de 6-12-1908 a quadra seguinte:
"Adeus, oh Rua Direita ,
rua da Murmuração,
Onde se faz audiência
Sem Juiz nem Escrivão!"
Em várias cidades antigas existem ruas com o citado nome, como se veri-fica em Mariana (MG).

RUA DR. JOSÉ MOURÃO - Relembra o médico sanjoanense Dr. José Martins de Carvalho Mourão, filho das segundas núpcias do comendador João Antônio da Silva Mourão e de Ana Teresa de Jesus. Presidiu a Câmara Municipal desta cidade e exerceu o mandato de Deputado Federal. Dr. José (1847-1902), casou com D. Maria Pereira de Carvalho, filha do médico Dr. Eduardo Ernesto Pereira da Silva, Barão de São João del-Rei.

Nome antigo: Rua de São Roque. Em 1782, o mestre-pedreiro Antônio Salzedo arrematou a execução de obras na Rua de São Roque.

RUA MARECHAL DEODORO - Seu nome anterior era Rua do Comércio. Seu nome primitivo era Rua do Curral, conforme exemplificam vários documentos. Em 1760 a Câmara da Vila de São João del-Rei determinou a construção de trinta bra-çadas de calçadas na Rua do Curral. Parte da Rua já teve o nome de Marechal Bitencourt.

RUA PADRE SACRAMENTO - Primeiramente teve o nome de Rua da Concei-ção, em virtude de ter sido construída no local, em 1713, a Capela de Nossa Se-nhora da Conceição, pelo mestre-de-campo Ambrósio Caldeira Brant, pai do san-joanense Felisberto Caldeira Brant, o famoso Contratador dos Diamantes. Em 1744 a Câmara colocou em praça de arrematação a construção da ponte da Rua do Portela - "para a Intendência". Deve ter residido no local Antônio Francisco Portela, que em 1728 exerceu em São João del-Rei o importante cargo de Procu-rador do Senado da Câmara. A 1-1-1722 Portela ingressou na Irmandade do SS. Sacramento da Vila de São João del-Rei. Mais tarde, um trecho da via pública to-mou a designação de Rua do Hospital. Surgiu também o nome de Matola, nome até hoje mencionado. Em 1760 foi construído o chafariz da Rua do Matola -"fonte nova defronte das casas que foram do defunto José Matol".

O sargento-mor José Matol foi um dos mais antigos moradores de São João del-Rei. Por analogia o bairro tomou a denominação de Matola. Matol ingressou na Irmandade do SS. Sacramento a 1-5-1719.

O nome atual aviva a lembrança do padre João Batista do Sacramento Teixeira (1852-1907). Exerceu o magistério e obteve êxito na tribuna sacra. Fun-dador do Asilo de São Francisco de Assis, exerceu o cargo de Comissário da Or-dem de São Francisco, que mandou colocar o seu nome no quadro de Benfeitores do referido sodalício religioso. O trecho final da Rua Padre Sacramento foi conhecido com o nome de Rua do Matadouro Velho.

RUA RESENDE COSTA - Patrono da rua: Inconfidente Dr. José Resende Costa Filho. Ocupou cargos no degredo e na Corte. Foi deputado por Minas Gerais. Do-ou seus livros, em testamento, à Biblioteca Pública de São João del-Rei. Faleceu em 1841. Antiga Rua de S. Miguel. Em 1727, portanto, a mais de 260 anos, [essa obra foi publicada em 1988] Ma-noel Francisco Pinheiro e Pedro Rodrigues Vilarinho compareceram ao Senado da Câmara de São João del-Rei e requereram licença para abertura de loja à Rua de São Miguel. Em 1736 Vilarinho ainda residia em São João del-Rei, pois contri-buiu com duas oitavas de ouro para o resgate da ponte sobre o Rio das Mortes. Em março de 1737 reuniu-se a Câmara para escolher local para a construção de nova cadeia. Tendo havido empate na votação, o vereador Simão Moreira de Al-meida desempatou em favor de terreno situado na Rua de São Miguel. Houve contratempos, sendo a cadeia construída no Largo do Rosário.

AVENIDA PRESIDENTE TANCREDO NEVES (1910-1985) - Filho de São João del-Rei, alcançou renome nacional como político - Recebeu o nome de Rua Paissandú após a Tomada de Paissandú, episódio ocorrido a 2-1-1865, na Guerra do Paraguai. A Lei Municipal n° 178, de setembro de I907, deu-lhe o nome de Avenida Carneiro Felipe, homenagem ao capitalista José Moreira Carneiro Felipe, português que veio para São João del-Rei em 1881, trabalhando na construção do primeiro trecho da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Faleceu a 15-5-1916 e era pai do notável cientista sanjoanense Dr. José Carneiro Felipe. A 13-8-1918 a cita-da via publica recebeu a denominação de Avenida Rui Barbosa, uma das mais ru-tilantes inteligências do Brasil. Propagava-se com insistência que a família Carnei-ro Felipe maguou-se profundamente com a mudança do nome. O nome do Águia de Haia permaneceu até pouco depois do falecimento do Presidente Tancredo Ne-ves.

PRAÇA EMBAIXADOR GASTÃO DA CUNHA (1863-1927) - Seu nome foi dado em 1938 ao Largo do Rosário. Conquistou nas mais altas e cultas Assem-bléias do Brasil e do Exterior, extraordinários triunfos oratórios. Representou o Brasil em diversos países, tendo exercido a Presidência da Liga das Nações. A denominação Largo do Rosário surgiu por volta da construção da igreja de Nossa Senhora do Rosário, benta em 1719. A respectiva Irmandade foi criada a 1-6-1708. Com o aparecimento do templo, surgiram as primeiras casas da Praça e da Rua do Rosário. A 27-7-1737, Cristóvão de Faria arrematou a construção da cadeia do Largo do Rosário, a segunda da Vila de São João del-Rei. A 1ª deve ter funcionado na Casa da Câmara. A documentação existente mostra que a constru-ção foi demorada. Pelo serviço executado o arrematante recebeu 533 oitavas de ouro. A 23-3-1747, a Câmara mandou lavrar termo de quitação em favor de Cris-tóvão, no tocante à obra da cadeia do Largo do Rosário. No local da referida ca-deia foi instalado o Museu Sacro de São João del-Rei, muito atuante na divulga-ção da cultura sanjoanense. Deliberou a Câmara a 6-4-1741 dar seis oitavas de ou-ro, anualmente, da renda da cadeia para a constituição do patrimônio da Capela de Nossa Senhora da Piedade e do Bom Despacho, que alguns devotos construíram defronte da cadeia, no Largo do Rosário, a fim de que os presos pudessem assistir às missas dominicais. Sua Majestade aprovou a citada decisão a 5-4-1743. O pro-fessor Pedro de Oliveira Raposo, enquanto viveu, cuidou da conservação da refe-rida capela. Por 150 oitavas de ouro o pedreiro João Batista arrematou em 1745 a construção da Ponte da Cadeia, a primeira deste nome. Como a cadeia ficava no Largo do Rosário, perto da Matriz do Pilar, sob a ponte corriam as águas que vi-nham da Muxinga, tendo sido construída em terrenos da referida cadeia. Informa o "Dicionário Etimológico", de autoria de Antônio Geraldo da Cunha, 1ª ed. 1982 - pág. 542 que "Muxinga significa açoite, surra, tunda". Cremos que os presos eram açoitados nos fundos da referida cadeia, o que explica o aparecimento do nome Muxinga

PRAÇA FRANCISCO NEVES - O nome reverencia a memória do comerciante sanjoanenses Francisco de Paula Neves (1879-1925). Exerceu a vereança. Pai do Presidente Tancredo de Almeida Neves. Nome antigo: Largo da Câmara, que vem de 1719, ano em que a Câmara arrematou, para servir de sua sede, as casas que pertenceram ao Cel. Antônio de Oliveira Leitão; situavam-se na atual praça Barão de Itambé (Francisco José Teixeira (1780-1866)), que foi vereador. No local funcionou o extinto Hospital de Nossa Senhora do Rosário, que foi demolido para a construção do Hospital de Nossa Senhora das Mercês. A 1ª sede da Câmara ficava no Matola, na casa de residência do mestre-de-campo Ambrósio Caldeira Brant, que integrou a 1ª Câmara da Vila de São João del-Rei, eleita a 9-12-1713. A pra-ça defronte da Igreja de Nossa Senhora das Mercês aparece citada em muitos do-cumentos com o nome de Praça das Mercês.

PRAÇA FREI ORLANDO - Patrono da Capelania das Forças Armadas Brasilei-ras, o revmo. Padre Frei Orlando (OFM) - 1913-1945, integrou a comunidade franciscana de São João del-Rei. Com o 11° R. I. Expedicionários, sediado em São João del-Rei, participou da Campanha da Itália. Exerceu o magistério no extinto Colégio Santo Antônio. Nomes antigos: Largo e Rua de São Francisco, que surgiram com o início das obras de construção da Igreja de São Francisco de As-sis. A 6-9-1741 devotos de São Francisco solicitaram ao Vigário da Matriz do Pi-lar licença para a construção da primitiva Igreja. Alcançando o pedido deferi-mento em outubro do mesmo ano. A 11-5-1742 Francisco da Costa Dias colocou a pedra fundamental da capela. Também em 1742 o cap. Antônio da Silva e Souza e outros devotos requereram ao Senado da Câmara de São João del-Rei uma sesmaria de temas, mas somente a 23-5-1752 lavrou-se o Auto de Posse dos terrenos. Mais tarde, a Ordem de São Francisco conseguiu aumentar seus domínios territo-riais, lavrando-se o Termo de Posse a 14-5-1760. A 4-8-1759 a Câmara de São João del-Rei confirmou aos Religiosos dos Santos Lugares de Jerusalém (Terra Santa) a posse de terrenos juntos à chácara de Ilário Nunes da Mata Trant, situa-dos perto da igreja de São Francisco, onde se encontra a Residência Episcopal João XXIII. Ilário ingressou a 8-9-1743 na Irmandade do SS. Sacramento da Ma-triz de Nossa Senhora do Pilar; em 1741 foi Juiz Ordinário da Vila de São João del-Rei. Aos referidos religiosos franciscanos o Cel. Manoel Dias de Menezes fez doação dos terrenos a 9-I-1743, data do estabelecimento dos citados frades em São João del-Rei. Já em 25-9-1719, o Senado da Câmara da Vila de São João del-Rei respondera ao Conde Assumar - "que tendo chamado algumas pessoas da edilidade, e com elas assentou este Senado, uniformemente, que se aceitasse o Hospício de seis até sete missionários..." A 26-8-1744 a Câmara deu a esmola de 20 oitavas de ouro para os Santos Lugares - "como se costuma dar todos os anos..." Em 1766 faleceu o alferes Bento Pinto de Magalhães, tronco de numerosa descendência. Deixou moradas de casas na rua de São Francisco. Em edital de 1768 a Câmara proibia a lavagem de roupa no chamado Chafariz do Largo de São Francisco. Os infratores, quando forros, sofreriam a pena de 8 dias de cadeia e pagariam duas oitavas de ouro; os cativos seriam açoitados no Pelourinho, pagando o seu senhor duas oitavas de ouro. Em 1772 residia no Largo de São Francisco o sargento-mor Luiz Antônio da Silva. A 2-1-1775 o sargento-mor Antônio José da Rosa Tenebra vendeu casa "na rua que vem da Capela de São Francisco para Real Casa da Intendência". Tenebra comprou a 5-8-1776 morada de casas térreas na rua de São Francisco, tendo como vendedores Amâncio José Luna e Ana Mari-nha da Fonseca. Tenebra a 1-1-1756 ingressou na Irmandade do SS. Sacramento da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar; parente dos intelectuais sanjoanenses Antônio Campos Tirado e Abgar Antônio Campos Tirado.

Em 1777 Maria Ribeira da Silva e seu marido Francisco Martins Guimarães (5° avô materno do autor destas notas) venderam casa - "no Beco que vem da Rua de São Francisco". Um acórdão de vereança de 1783 menciona a Casa da Ópera e a rua de São Francisco.

A 29-5-1786 o Senado da Câmara tomou providências para a construção do curro do Largo de São Francisco, onde se festejariam os casamentos de infan-tes. Além disso, construíram-se tablado para as óperas e palanques para os mem-bros do Senado da Câmara, Ministros, nobreza e povo - A 23-7-1786 realizaram--se os festejos comemorativos dos desposórios do futuro D. João V com Carlota Joaquina; da Infanta Maria Vitória com o Infante D. Gabriel de Castela. Duraram vários dias as festas do Largo de São Francisco, tendo havido quatro tardes de combates de touros, duas cavalhadas e três óperas - "em teatro firmadono meio do curro com nobre Aparato". No Largo de São Francisco um "grande obelisco de luzes fazia as noites tão claras como o dia".

Em 1788 o sargento-mor Luiz Antônio da Silva pedia à Câmara licença para mudar a localização do chafariz do Largo de São Francisco, alegando que se achava arruinada a fonte, pois os escravos ali buscavam água a pé molhado. Faria a obra a sua custa e como compensação lhe concederia a Câmara o terreno baldio no fundo de seu quintal. Em novembro de 1792 a Câmara mandou executar obras na Calçada da Rua de São Francisco. No referido Largo a 8-9-1795 houve cava-lhadas, touradas e exibições de óperas, em sinal de regozijo pelo nascimento do Príncipe Antônio, filho do Príncipe Regente D. João, mais tarde D. João VI, e de Carlota Joaquina.

Em 1842 Caxias recebeu, no Largo de São Francisco, continências milita-res da tropa sediada em São João del-Rei. A lei municipal n° 165, de 17-4-1907 deu o nome de Praça D. Pedro II ao Largo de São Francisco, denominação que não pegou.

RUA DR. BALBINO CUNNHA - Trata-se da antiga Rua de São Francisco. A mu-dança do nome para Rua Dr. Balbino Cunha foi aprovada em sessão da Câmara Municipal de 7-2-1887. Dr. Balbino Cândido da Cunha, médico sanjoanense, pre-sidiu a Província do Paraná e a Câmara Municipal desta cidade. Foi Deputado Ge-ral nas Legislaturas de 1872 e 1875. Na terra natal, além da clínica, exerceu o magistério no Externato e na Escola Normal. A 14-12-1871 a Irmandade do SS. Sacramento concedeu-lhe o título de irmão remido de cargos, tendo em vista "bons serviços prestados a esta irmandade". Era filho do Dr. Domingos José da Cunha e de Dª Balbina Cândida da Silveira Negreiros. Era pai do diplomata Dr. Gastão da Cunha.

PRAÇA GUILHERME MILWARD - Antiga Praça do Bonfim, nome que despontou a partir de 1769, quando José Garcia de Carvalho solicitou ao Senado da Câmara de São João del-Rei a concessão de terras para a construção da Capela do Senhor Bom Jesus do Bonfim. A Praça do Bonfim também era citada pelo nome Morro da Forca, denominação que alcançava todo o bairro do Bonfim, crescendo sobremaneira o número de ruas. O nome atual homenageia a uma das personalida-des mais ilustres de São João del-Rei, o médico e engenheiro Dr. Guilherme Bas-tos Milward (1877-1932), filho do médico Dr. Cornélio Emílio das Neves Mil-ward e de Dª Francisca Cândida Bastos. Era neto paterno do inglês Roberto Hen-rique Milward e de Dª Belisandra Emília das Neves Milward; neto materno do comendador Antônio José Dias Bastos e de Francisca de Assis Moreira Bastos. Dª Belisandra era filha do alferes José Antônio das Neves, trisavô do Dr. Tancredo de Almeida Neves.

Como no local existiu a forca, os documentos antigos fazem menção ao Morro da Forca. A 22-11-1772 o Ouvidor da Comarca Dr. Francisco Carneiro de Almeida deferiu a petição da Ordem de São Francisco para a medição e demarca-ção de terrenos concedidos aos irmãos franciscanos por terem caído os respectivos marcos. Esclarece o auto camarista então lavrado: "Deixando livre a rua que vai da Prata para o morro denominado da Forca...; deixando livre a rua que vem do chafariz desta Vila, que vai para o Morro da Forca". A 14-3-1775 o padre Fran-cisco Xavier da Costa Fialho comprou casas térreas no "Morro chamado Senhor Jesus do Bonfim".

RUA RIBEIRO BASTOS - O nome exalta a memória do maestro, compositor e educador Martiniano Ribeiro Bastos (1834-1912). Exerceu a Presidência da Câmara Municipal e o cargo de Juiz de Paz. Dirigiu a Escola Normal. Também se distinguiu como latinista. A homenagem foi deliberada em sessão da Câmara Mu-nicipal de 27-1-1913. Em alguns documentos aparece mencionada como Rua do José Marcos; ali residiu o músico José Marcos de Castilho, falecido em 1830. No tempo de antanho era citada com os nomes de Rua do Morro da Forca e Rua do Bonfim.

RUA DR. JOSÉ BASTOS - O Dr. José Moreira Bastos (1851-1914), médico sanjoanense, foi Diretor da extinta Escola de Farmácia de São João del-Rei. Em 1912 presidiu a Sociedade de Medicina e Cirurgia de São João del-Rei. Era filho do comendador Antônio José Dias Bastos e de Dª Francisca de Assis Moreira Bastos. Era irmão do médico Dr. Antônio Moreira Bastos. Anteriormente era co-nhecida como Rua do Meio. Seu nome mais antigo era de Rua da Independência.

RUA SANTO ANTÔNIO - A tradição oral indica que se trata de uma das mais antigas ruas de São João del-Rei. O nome originou-se com a construção da Capela de Santo Antônio. O sargento-mor Alvares de Oliveira, no seu importante escrito de 1750, não menciona a Capela de Santo Antônio, que foi construída pouco de-pois. A 17-1-1778 foi aberto o testamento de Josefa Nunes de Carvalho, preta for-ra, que morava em casa própria localizada perto do Sítio do Barro Vermelho. Dei-xou em testamento esmola para a Capela de Santo Antônio do Tejuco. A 25-11-1779 o vigário Antônio Caetano Vilas Boas Gama oficiou, na "Capela de Santo Antônio do Tejuco", o casamento de seus escravos Paulo Marques de Al-meida, filho da parda Ana Marques, e de Teresa Caetana Benedita, natural da Costa da Mina. Conserva o mesmo nome até hoje. Com a nova iluminação elétrica, com seus lampiões coloniais, livre de postes, fios elétricos e telefônicos, a Rua Santo Antônio transformou-se em ponto de atração turística. Às terças-feiras a Capela de Santo Antônio permanece aberta para a visitação de numerosos devotos do Patrono da atraente rua sanjoanense [é nesta rua a casa do autor da obra].

AVENIDA GENERAL OSÓRIO - Nome dado em homenagem a Manuel Luis Osório, Marquês do Erval (1808-1879), bravo militar que ao assumir o Comando das Tropas Brasileiras na Guerra do Paraguai, declarou em Ordem do Dia: "É muito fácil comandar homens livres". A 30-3-1883 a Rua Formosa recebeu o no-me atual; antes chamava-se Rua do Tejuco, nome ainda figurando no bairro. Em 1777 Maria Ribeiro Silva e seu marido Francisco Martins Guimarães (meu 5° avô), residentes em Caxambu, no atual Distrito de Caburú, venderam propriedades em São João, incluindo na transação casa de sobrado, pequena, atrás do Rosário, "na rua do Tejuco". Em 1790 o padre Sebastião de Freiria comprou, para a cons-tituição de seu patrimônio eclesiástico, morada de casas na Rua do Tejuco. No fi-nal do ano de 1805 João Ribeiro Silva arrematou a execução de reparos na Rua do Tejuco e Santo Antônio. Em 1820 houve violento conflito na Rua do Tejuco, pouco distante da Capela de Santo Antônio, entre seresteiros. José Carlos Silva espatifou uma viola no companheiro de farra Manoel Joaquim Marreiros, que fi-cou ferido. O musicista José Marcos de Castilho herdou propriedades do irmão Francisco Ferreira de Oliveira, que, em 1828, vendeu para Maria Joaquina de São José. "Eram com frente para a Rua da Praia, pátio que serve de curral com portão grande e água nativa, com fundos para a Rua do Tejuco". Em 1859 o comendador José Antônio Rodrigues publicou as "Notícias Cronológicas de São João del-Rei", nas quais cita as 24 ruas sanjoanenses, incluindo a Praia Formosa. O prof. Severiano de Resende em 1877, em artigo estampado no "Arauto de Minas", rela-ciona as nossas ruas, fixando o nome Praia Formosa.

PRAÇA SEVERIANO DE RESENDE - Nome dado em homenagem ao prof. Se-veriano Nunes Cardoso de Resende (1847-1920), jornalista, Deputado Provincial, orador e teatrólogo. O nome anterior era Praça do Tamandaré, num culto de exal-tação da personalidade do almirante Joaquim Marques Lisboa, marquês de Taman-daré (1807-1897), Patrono da Marinha Brasileira. Em tempos mais remotos cha-mava se Praça da Praia. Em 1834, na Praça da Praia, foi construído o belo Chafa-riz dos Arcos ou Chafariz da Legalidade, que a Câmara Municipal mandou demolir em 1895, cometendo condenável atentado a um monumento de grande valor histórico e artístico. Antigamente permaneciam no local carros de bois, carroças e troles, além de tropeiros, que abasteciam a localidade com diversos produtos alimentícios.

RUA ARTUR BERNARDES - Nome que cultua a memória do estadista brasilei-ro Dr. Artur da Silva Bernardes (1875-1955); exerceu a Presidência da República de 1922 a 1926. Antiga Rua da Intendência.

Costuma haver confusão no assunto, pois nalguns documentos citam-se outras ruas com a expressão "Rua que vai para a Intendência" (Real Intendência do Ouro da Vila de São João del-Rei). Ficou conhecida com o nome de Rua Mu-nicipal a partir de 1849, época do término do atual edifício da Prefeitura Munici-pal. A Rua também já ostentou o nome de Moreira Cesar, em homenagem ao Cel. Antônio Moreira Cesar, que morreu em combate a 3-3-1897, em Canudos, na luta legalista contra os fanáticos de Antônio Conselheiro. O trecho da Rua Artur Ber-nardes, situado entre a Ponte da Cadeia e a Praça dos Expedicionários, recebeu o nome de Rua Ministro Gabriel Passos, que foi sepultado nesta cidade a 20-6-1962, com honras de Ministro de Estado. Era sanjoanense adotivo.

A 3-12-1770 o capitão-mor Manoel Caetano Monteiro Guedes comprou morada de casas "na rua que vai da Intendência para a igreja Matriz". A Inten-dência de Ouro localizava-se onde se encontra a Escola Estadual Maria Teresa [hoje Escola Municipal]. A 2-11-1797 desabou uma das pontes da Vila de São João del-Rei. Lê-se no L° de Acórdãos da Câmara (1791-1798 - fls. 275): "Cahio a ponte da Rua da Intendên-cia na ocasião em que o reverendo Pároco levava o Santíssimo Viático que por um milagre extraordinário ficarão ilesas e salvas da corrente do Rio as sagradas for-mas ao mesmo passo que todas as pessoas que o acompanhavam em maior parte delas foram gravemente molestadas.".

A 15-11-1797 lavrou-se o edital para a construção da ponte de pedra -"que vai para a Intendência". A 24-2-1798 Joaquim Bernardes Chaves arrematou por cinco contos de réis a construção da ponte. Cedeu os direitos de arrematação a João Gonçalves Gomes, que executou a obra. Trata-se da atual Ponte da Cadeia. A ponte anterior era de madeira.

RUA CORONEL TAMARINDO - Relembra o Cel. Pedro Nunes Tamarindo, que morreu em Canudos, no Comando da Tropa. No local, há mais de duzentos anos, existiam as importantes lavras de ouro do Barro Vermelho. Simplificou-se com o tempo o nome para Barro. Nome anterior: Rua do Barro. O citado arrabalde al-cançava vasta região, nas imediações das ruas Padre Faustino, Coronel Tamarin-do, Capitão Vilarim, Rodrigues de Melo, Modesto de Paiva, Alexina Pinto, Padre Machado e outras. A Rua Capitão Vilarim, supra citada, perpetua a lembrança do Capitão Joaquim Quirino Vilarim, que morreu em combate em Canudos, no sertão da Bahia. Pertencia ao 16º Batalhão de Infantaria, que antes de seguir para Canu-dos, esteve estacionado em São João del-Rei. Vilarim deixou um nome respeitável: os moradores da Rua Capitão Vilarim podem se orgulhar de seu patrono.

O sargento-mor José Alvares de Oliveira, 1° historiador de São João del-Rei e partícipe da Guerra dos Emboabas, escreveu, por volta de 1750, a "História do Distrito do Rio das Mortes". Informa na importante obra que no Barro Ver-melho existia o Oratório de Nossa Senhora da Conceição. A 17-1-1778 faleceu a preta forra Josefa Nunes de Carvalho, natural da Costa da Mina, que morava no "sítio junto às bicas da lavra do Barro Vermelho". Deixou em testamento donati-vos para várias igrejas e irmandades. A 23-7-1777 faleceu em sua residência, no Barro Vermelho, o padre Matias da Paz e Castro, que era natural da cidade de Pa-raíba do Norte, Bispado de Pernambuco. Os bens de fortuna de Josefa e do padre Matias provieram, possivelmente, da exploração de betas auríferas, localizadas no Barro Vermelho. O cientista alemão Barão de Eschwege, que visitou Minas Gerais em princípios do século passado, publicou a valiosa obra "Pluto Brasiliensis", na qual informa que nas lavras de ouro do Barro Vermelho eram utilizados, em 1780, 999 escravos. Esclarece na citada publicação que as lavras de ouro do Barro Ver-melho foram descobertas em 1740.

RUA PADRE QUESTOR DE BARROS - Padre Salesiano. Antiga Rua de São Caetano, nome existente há mais de duzentos anos. A 14-9-1737 foi realizado, na Capela de São Caetano, o casamento de Sebastião Silva Teixeira e Gervásía de Gouvea. A nubente era filha do sargento-mor Bernardo Espínola de Castro e de Maria de Godoi Moraes. Testemunhou o ato o capitão-mor Manoel da Costa Gou-vea. O sargento-mor José Alvares de Oliveira (o.c.), cita a Capela de São Caetano.

Diogo Bueno da Fonseca, fundador da dita Capela, aparece em 1761 como guarda-mor da Vila de São João del-Rei. Silva Leme informa na monumental "Genealogia Paulistana", que em 1730 tomou posse da Fazenda do Funil, em terras concedidas em sesmaria. Bueno da Fonseca e seus parentes foram antigos povoadores das lavras do Funil, atual cidade mineira de Lavras.

Diz a tradição que o guarda-mor Diogo Bueno da Fonseca determinou que a capela-mor fosse mais alta do que o corpo da igreja. O mestre-pedreiro, encarre-gado da obra, ponderou-lhe que a decisão contrariava os mais elementares princípios arquitetônicos. O Teimoso guarda-mor retrucou ao mestre, declarando: "Tu-do que é mor é maior". As ordens do devoto de São Caetano foram obedecidas.

Esclarece o Com. José Antônio Rodrigues na sua obra, escrita em 1859: "Na mesma igreja existiu um reposteiro na porta lateral, que dava para uma tribu-na, comunicada com a casa do guarda-mor, com a inscrição seguinte: "O Rei de-pende de nós, e não nós dele".

Em 1762 residia no Morro de São Caetano o Guarda-mor José Joaquim da Costa Gouvea. Quando, em 1780, foi construído o Chafariz da Biquinha, o sar-gento-mor José Joaquim ainda morava no local. Em 1763 o citado guarda-mor so-licitou ao Senado da Câmara de São João del-Rei que o seu nome fosse indicado, para o provimento no posto de capitão-mor, vago com o falecimento de seu pai Manoel da Costa Gouvea, que prestou relevantes serviços ao Rei de Portugal. Alegou que era seu tio o 2° Ouvidor da Comarca sediada na Vila; que seu avô materno Pedro de Moraes Raposo foi o 1° Juiz Ordinário da Vila, eleito a 9-12-1713. Foi aberto a 25-2-1783 o testamento do português André da Silva Freire, que morava em Macaia, no Rio Grande. Alí comprara terras do guarda-mor Diogo Bueno da Fonseca, fundador da Capela de São Caetano. Afirmou no testa-mento que devia 40 oitavas e três quartos ao citado Diogo. Mário Leite, no livro "Paulistas e Mineiros" (1961), assevera, baseado em Carvalho Franco, que Bueno faleceu em 1779. A 12-1789 faleceu Ana Maria de Gouvea, filha do capitão-mor Manoel da Costa Gouvea, - "a qual há muitos anos estava demente." Foi sepulta-da dentro da Capela de São Caetano. O "Arauto de Minas", de 24-12-1880, pu-blicou crônica de Severiano de Resende sobre as consoadas de São João del-Rei. Diz num trecho: "Quem às 10 horas passa pelo Tejuco há de ver iluminada a velha chácara de São Caetano, antiga habitação de um célebre guarda-mor, donde partem festivais sons de faceira viola, em harmonia com os de afinada rabeca, de machetes e pandeiros, misturando-se as vozes dos cantores ao arruído de forte sa-pateado de mestres batuqueiros e adestradas marchadeiras". O jornal "Pátria Mi-neira", ed. de 28-7-1892 informou: "Sabemos que o ativo comerciante Sr. Manoel Anselmo de Oliveira vendeu por alto preço seu poético chalet do Alto de São Caetano".

Desapareceu o nome da Rua São Caetano mas a antiga chácara vem obtendo grande valorização imobiliária com o aparecimento do novo bairro denominado "Residencial São Caetano" e do bairro do Guarda-mor, um pouco mais antigo.

PRAÇA PREFEITO DR. ANTÔNIO DAS CHAGAS VIEGAS - (1881-1969) -O patrono da praça exerceu a medicina nesta cidade, tendo exercido o cargo de Prefeito de São João del-Rei. Nasceu em São Tiago (MG), filho do sanjoanense Antônio Xavier das Chagas Viegas e de Dª Maria Cristina Santiago Viegas. Foi médico da antiga E. Ferro Oeste de Minas. Desde 1882 possuía o nome de Vis-conde de Ibituruna, Dr. João Batista dos Santos, ilustre músico sanjoanense, filho nato de São João del-Rei. Nossa terra necessita com urgência honrar a memória do Visconde de Ibituruna, personalidade de duradouro vigor, sob múltiplos aspectos. Foi grande brasileiro e notável médico. O nome anterior era Prainha. Em 1719 Luiz Pereira de Souza estabeleceu-se com açougue "na vargem indo para a Prai-nha". "Na Rua da prainha está o Oratório das Almas", como documenta o sar-gento-mor José Alvares de Oliveira na sua "História do Distrito do Rio das Mor-tes", escrita mais ou menos em 1750. Em 1776 lavrou-se escritura de compra de duas moradas de casas, situadas no Morro da Prainha e que pertenceram ao Aju-dante Manoel José Martins. O Morro Carlos Sânzio, que se limita com a praça da antiga Estação Rodoviária, até hoje é conhecido com o nome de Morro Manoel José. A aquisição foi feita pelo capitão-mor Manoel Antunes Nogueira e sua mu-lher Rita Luiza Vitória de Bustamante, para reforço do patrimônio da Capela de Nossa Senhora da Conceição, que existiu no Matola. O casal doou as casas, co-bertas de telhas, com seu quintal grande à Capela supra citada.

Funcionou na Prainha a Escola João dos Santos, fundada e mantida pelo grande benemérito de São João del-Rei, o Visconde de Ibituruna. Nasceu na Praça Visconde de Ibituruna o ilustre conterrâneo Marechal Antônio José Coelho dos Reis (1898-1974).

MATOZINHOS - O antigo bairro de Matozinhos cresceu sobremaneira, originan-do vários bairros e dezenas de ruas. O bandeirante paulista Tomé Portes del-Rei, o fundador de São João del-Rei, foi assassinado por escravos em 1704. Muito antes Tomé Portes se estabelecera no local, o conhecido Porto Real da Passagem, como proposto reinol para a cobrança de impostos para o Erário Real. Fixara-se em Matozinhos ou perto de Matozinhos com a família, com amigos e escravatura, ini-ciando-se ali, o primeiro núcleo populacional que deu origem ao Arraial Novo do Rio das Mortes, depois Arraial de Nossa Senhora do Pilar. Pode-se afirmar categoricamente que São João del-Rei teve o seu começo em Matozinhos, graças à atuação pioneira de Tomé Portes del-Rei. A 15-2-1709, época de grande turbulên-cia no Arraial Novo, invadido por numerosos forasteiros em busca do ouro, os paulistas foram derrotados no chamado "Capão da Traição", situado nas proximi-dades de Matozinhos. Teria havido matança de prisioneiros. A ereção da Capela de Matozinhos, fator de progresso do local, foi autorizada por Provisão de 6-9-1771. Seu Patrimônio foi doado pelo vigário de Nossa Senhora do Pilar, padre Dr. Matias Antônio Salgado, que já se encontrava no exercício do cargo quando faleceu o Rei de Portugal (1750) D. João V. O padre Matias foi um grande ben-feitor do bairro, dos mais progressistas de São João del-Rei.

Em 1771 o Senado da Câmara notificou, em edital, aos possuidores de terras na Vargem do Porto Real, a apresentação à Câmara de São João del-Rei dos documentos de posse das mesmas. Pretendia-se edificar na citada vargem a Capela do Senhor do Matozinhos.

Francisco Ribeiro Mendes em 1774 enviou requerimento à Câmara tendo em vista o aparecimento de supostos proprietários. O peticionário desejava am-pliar suas terras ali, mandando fazer tapumes. Houve reação dos interessados, que apresentaram títulos de propriedade das terras pretendidas. Ribeiro Mendes alegou "no tempo em que os donatários requereram terras na mesma paragem já estava de posse das suas". Suas terras compreendiam, ainda, "todo o vão que hoje serve de área à Capela do Senhor de Matozinhos, e que no tempo de sua concessão nem havia a Capela que se fez posterior, nem casas algumas". A Câmara decidiu que Francisco Mendes não fizesse outras tapagens, "sob pena de ser preso". Diz o Termo de Vereança (1774): "E atendendo a esta Capela do Senhor de Matozinhos edificada em grande tortura, o que é irremediável, deve-se formalizar já o terreno e a rua em forma que a indireitam para formosura dela e trajeto público". Ribeiro Mendes faleceu a 7-8-1790, sendo sepultado dentro da Capela de S. Francisco. Foi síndico da Ordem de São Francisco de Assis.

Em março de 1774 casaram-se na Capela do Senhor do Matozinhos, Ma-noel da Costa Vilas Boas, filho do capitão Manoel da Costa Vilas e de Quitéria Inácia da Gama, com Maria Vitória Joaquina de Freitas, batizada na Freguesia de São João Batista de Cartarxo, da cidade de Lisboa.

Em 1774, como vimos, a Câmara de São João del-Rei reuniu-se para es-tudar problemas sobre propriedades de terras (já havia especulação imobiliária, na época) "na paragem da Vargem da Água Limpa, Capela do Senhor de Matozi-nhos". Alguns interessados apresentaram títulos de propriedade de terras, passa-dos pela Câmara em 1770. A 2-10-1780, na Capela do Senhor de Matozinhos, ca-sou-se Antônio Ribeiro Carvalhais, filho de Manoel Jorge e de Maria Ribeiro, ba-tizado na Freguesia de S. Tiago de Carvalhais, Conselho de Laxões, Bispado de Vizeu, com Ana Maria de Matos, filha de Domingos Correa da Costa e de Maria de Matos, batizada na Freguesia do Pilar. Os nubentes são pais de Clementino Jo-sé do Carmo e do ilustre sanjoanense Conselheiro Lourenço José Ribeiro, 1° Di-retor dos Cursos Jurídicos de Pernambuco. São parentes do acadêmico conterrâ-neo general Carlos de Oliveira Ribeiro Campos.

A 17-11-1784, "na Capela de Matozinhos da Vargem do Porto desta Vi-la", realizou-se o casamento do maestro Alferes Lourenço José Fernandes Brasiel, ancestral do advogado sanjoanense Dr. Nilo Braziel do Vale, com Dª Ana Pi-menta Severina Chaves.

Na Festa do Senhor Bom Jesus de Matozinhos de 1789, Manoel Moreira estabeleceu-se com taberna, coberta de capim, no Largo de Matozinhos. Na citada taverna houve conversas de romeiros que "comprometiam" os interlocutores, ou-vidos em devassa, em conseqüência da Inconfidência Mineira. Uma das testemu-nhas, o sargento-mor Joaquim de Souza Câmara, moço fidalgo da Casa de Sua Majestade, foi inquirido a 17-9-1789. A 13-4-1793 faleceu Domingos Alves de Araújo, Ermitão da Capela do Senhor de Matozinhos. A 23-3-1802 Bernardo José de Lorena, Governador da Capitania de Minas, concedeu a Manoel Gomes de Almeida Coelho (faleceu a 28-9-1838) a patente de capitão da Cia. de Ordenança do Novo Distrito da Capela do Senhor de Matozinhos, de Vila de São João del-Rei. Ingressou na Irmandade do SS. Sacramento a 12-6-1804. A mesma autoridade a 10-5-1802 nomeou para o posto de alferes do citado Distrito Clementino José Ribeiro Carmo. A 12-9-1810 foi aberto o testamento do mestre-de-campo Inácio Correa Pamplona, que residia em Matozinhos. Foi o 3° denunciante dos Inconfi-dentes mineiros. Foi grande sertanista e latifundiário. A 1-5-1811 o padre Pam-plona Corte Real vendeu u'a chácara grande, toda murada e valada, com terras de cultura, arvoredos e mais plantas, situada no Arraial de Matozinhos da água Limpa, "subúrbio de São João del-Rei", à Maria Angélica de Sá Menezes, viúva do Cel. Carlos José da Silva, pais do Barão de Pouso Alto.

Durante mais de um século o bairro de Matozinhos notabilizou-se pelas animadas festas do Divino Espírito Santo. Cresceu a devoção ao Senhor Bom Je-sus de Matozinhos e as festividades atraíram romeiros de várias localidades.

O bairro de Matozinhos ufanava-se de suas numerosas e bem cuidadas chácaras, refertas de árvores frutíferas.

BECO DO COTOVELO - A chamada Travessa Dr. Paulo Teixeira, que liga a Praça Dr. Paulo Teixeira à Praça Barão de Itambé, já exibe numa placa o seu no-me antigo: Beco do Cotovelo. A rua apresenta a forma de um cotovelo, quase em ângulo reto.

RUA CARVALHO RESENDE - O titular Francisco Inácio de Carvalho Resende. Era filho de João Inácio de Carvalho e de Ilidia Mafalda de Resende. Neto paterno do guarda-mor João Correa de Carvalho e de Ana Matilde de Jesus, filha de José de Carvalho Duarte, falecido a 20-4-1814, e de Mariana Antônia de Jesus, quintos avós do autor deste trabalho. Neto materno de Francisco Antônio de Carvalho e de Delfina Henriqueta Júlia de Resende. A mãe de Dr. Carvalho Resende era irmã de José Resende de Carvalho, Barão de Conceição da Barra. Foi Deputado Federal e publicou o livro de poesias "Minhas Recordações de São Paulo". Faleceu a 3-5-1883 aos 45 anos de idade.
Antiga Rua do Pau de Ingá, que o povo pronuncia Pau Dangá. Era o anti-go caminho para as lavras de ouro do Barro Vermelho. O ingá é fruto da ingazei-ra, nome comum a várias espécies de plantas leguminosas mimosáceas. Deveria ser um lugar pitoresco, com as inflorescências cobrindo as ingazeiras. A 31-12-1786 o pedreiro Antônio Francisco Salzedo arrematou a obra de reparos nas calçadas do caminho que vai para o Pau de Ingá. Em 1805 a Câmara mandou pro-ceder concertos no paredão do Pau de Ingá. Modesto de Paiva em "Noites de In-sônia", livro publicado em 1892, versificou a lenda "A Sombra do Enforcado" da qual daremos trecho:

"Jesus, que casa assombrada!
Coitado de quem for lá...
Junto à subida chamada
Ladeira do Pau D'Angá".

O "Astro de Minas", 1°- jornal de São João del-Rei, cita o Pau de Ingá em sua edição de 27-11-1827.

Ignoro se há correlação entre as assombrações supra citadas e a constru-ção do Cruzeiro do Pau de Ingá, que já foi palco de animadas festas religiosas. A 9-6-1918 o vigário Mons. Gustavo Ernesto Coelho pregou no Cruzeiro do Pau de Ingá, seguindo-se a tocante cerimônia da Adoração da Cruz. A Praça foi ilumina-da e adornada, atuando num coreto uma das organizações musicais de São João del-Rei.

RUA JOÃO MOURÃO - Antiga Rua do Jogo da Bola. Tomou o nome atual em homenagem a João da Silva Mourão (1829-1904). Era filho do comendador João Antônio da Silva Mourão e de Querubina Maria Cleofa. O nome Jogo da Bola já era conhecido em 1827, como se lê no jornal sanjoanense "Astro de Minas".

RUA MAESTRO BATISTA LOPES, nome que recebeu em 1938, em homenagem ao pintor, escultor e maestro sanjoanense Luiz Batista Lopes (1854-1907). Foi Di-retor da Orquestra Lira S. Joanense. Nomes antigos: Rua das Flores e Morro do Pagão. Com o nome de Rua das Flores já aparece em 1859.

RUA MAESTRO FERNANDO CALDAS (1887-1951) - O maestro Fernando de Souza Caldas regeu a Orquestra Lira S. Joanense de 1924 a 1949. Nome anterior: rua do Campo, que faz ligação com a Rua do Ouro, localizada no sopé da serra.

RUA GOMES PEDROSO - Nome anterior: Rua do Tanque. Como nas imediações existem muitas betas auríferas, cremos que no local utilizava-se tanque para depósito de água, usada nos trabalhos de garimpagem. Em 1855 realizaram-se obras na igreja de Nossa Senhora do Carmo, quando foram tiradas pedras na Pe-dreira do Morro do Gambá, atrás da antiga sede da Câmara Municipal. A mesma documentação, da Ordem do Carmo, cita, também, a pedreira do Tanque. O cha-mado Tanque abrigaria boa parte do Jogo da Bola. Acredito que o nome presta homenagem ao Antônio Gomes Pedroso, que faleceu a 26-9-1908. Era benfeitor da Venerável Ordem 3ª de Nossa Senhora do Carmo. Era filho de Vitoriano Go-mes Pedroso, falecido a 10-6-1862, igualmente Irmão do citado sodalficio religio-so.

RUA DO RÓCIO ou LARGO DO RÓCIO - Em princípios de 1833 a Câmara aprovou a proposta de vereador Antônio Fernandes Moreira em o sentido de abrir-se subscrição para a construção de um chafariz - "no Rócio entre a Rua do Curral (atual Marechal Deodoro) e o cais da Praia". Trata-se do Chafariz dos Arcos ou da Legalidade. Em agosto de 1826 a Ordem de São Francisco pedia à Câmara que lhe concedesse uma pena d'água para o lavatório da sacristia - "somente da água que vem do chafariz construído junto à Igreja da mesma Ordem". O requerimento da Ordem especifica o Rócio ou Largo de São Francisco. Tanto o Largo de São Francisco como a Praça da Praia eram conhecidos pelo nome de Rócio, conforme acima demonstramos. O "Novo Dicionário Aurélio" dá o sinônimo da palavra: Praça Larga, Largo espaçoso: terreno que antigamente o povo roçava e usufruía em comum.

RUA JOÃO DA MATA - O nome presta culto de saudades ao genial maestro sanjoanense João Francisco da Mata. Situa-se no bairro do Bonfin. Nome ante-rior: Beco do Progresso.

RUA HOMEM DE ALMEIDA - Antônio Homem de Almeida (1841-1921), pa-trono da rua, português, pai de Dª Antonina de Almeida Neves (Dª Sinhá Neves) e avô materno do Presidente Tancredo Neves. Trata-se da antiga rua da Lage. O caminho da rua da Lage foi aberto em 1784 pelo capitão Inácio Antônio da Cunha que a 29-7-1772, na Matriz do Pilar, casou-se com Francisca Maria de Paula, filha do sargento-mor João Rodrigues da Silva e de Maria Josefa da Conceição. O Cap. Inácio nasceu na Freguesia de S. Salvador do Fayal, Bispado de Angra, Ar-quipélago dos Açores. Inácio entrou na Irmandade do SS. Sacramento a 14-4-1776.

RUA INÁCIO ALVARENGA - Nome anterior: Buraquinho. A Rua tem o seu começo na Rua Santo Antônio, no local existiu a chamada Ponte de Pedra. Sob a ponte corriam as águas que vinham do Buraquinho e seguiam pela Rua Afonsina Alvarenga, em direção ao córrego do Lenheiro. A Rua que homenageia Dª Afon-sina de Melo Alvarenga foi remodelada, sendo canalizadas as águas supra citadas.

RUA MAESTRO JOÃO PEQUENO - Recebeu o nome em homenagem ao maes-tro sanjoanense João Evangelista Pequeno (1867-1949). Em 1912 sucedeu ao maestro Martiniano Ribeiro Bastos na direção da Orquestra Ribeiro Bastos. A rua liga a Praça Embaixador Gastão da Cunha à Praça Severiano de Resende. Nome antigo: Beco da Romeira. A 14-9-1825 os vereadores desta localidade resolveram "que se pusesse em praça os consertos nas calçadas do Beco chamado da Romei-ra".

RUA PROFESSOR JOSÉ BATISTA DE SOUZA - Exerceu o cargo de secretário da Prefeitura de São João del-Rei. Antiga Muxinga. Limitava-se com os fundos da cadeia antiga, então localizada no Largo do Rosário. Muxinga significa surra. Acredita-se que ali eram açoitados os presos, surgindo a denominação.

RUA AURELIANO RAPOSO - Antiga Rua do Cassoco, localizada na subida da antiga Prainha. No local existiu, até recentemente, a cadeia pública desta cidade, conhecida pelo nome de Cadeia do Cassoco. O prédio, reformado com o apoio do povo, abrigam as Delegacias de Polícia. Em 1883 o "Arauto de Minas" noticiou a ocorrência de um conflito sangrento no Cassoco, crime "desvendado graças à atuação do correto Oficial de Justiça Januário de Azevedo".

RUA MARECHAL BITENCOURT - homenagem ao ilustre e bravo militar Mare-chal Carlos Machado Bitencourt, que tomou parte na Guerra do Paraguai. A 5-11--1897 faleceu no cumprimento do dever, no momento em que o Presidente da Re-pública, Prudente de Morais, recepcionava a tropa que lutara vitoriosamente em Canudos. Defendendo o Chefe Supremo das Forças Armadas de violento ataque de um sicário, tombou morto no local. Patrono da Intendência do Exercito. Já teve o nome de Rua Tiradentes. Trata-se da antiga Rua da Cachaça. Em seu testamen-to, com termo de abertura de 21-9-1779, Ana de Oliveira, preta forra, afirma que morava à Rua da Cachaça. Era viúva, sem filhos, de Manoel Pinto. Deixou liber-tos os escravos Manoel e Maria, aos quais instituiu herdeiros.

Em 24-12-1793 a Câmara determinava pôr em arrematação a calçada da Rua da Cachaça. Conforme consta dos "Autos de Devassa da Inconfidência Mi-neira" - volume 4° - 1981 - págs. 211 e 213, um taberneiro português residia na Rua da Cachaça. Chamava-se Manoel Moreira e prestou depoimento a 14-9-1789.

A 28-7-1826 João Batista de Almeida e Bernarda de Almeida Magalhães, filhos naturais de Francisco de Paula de Almeida Magalhães, compraram morada de casas térreas, situadas na esquina da Rua da Cachaça. A propriedade limitava--se com a nova rua de Alcântara (sic.), que desce do Largo do Carmo para a rua do Curral, atual Rua Marechal Deodoro. A 5-9-1834 ingressou na Irmandade do SS. Sacramento, Ana Lianor Raquel, moradora na Rua da Cachaça. Na inconstância da nomenclatura, parte da Rua do Comércio (atual Marechal Deodoro) já teve o nome de Rua Marechal Bitencourt.

PRAÇA FAUSTO MOURÃO - poeta, jornalista e tabelião, era neto do comenda-dor João Antônio da Silva Mourão. Faleceu em 1948 e deixou viuva Dª Rosa Ro-drigues Mourão. Nome antigo - Praça da Biquinha. Em 1780 o mestre-pedreiro Bento Moreira arrematou, por 159 oitavas de ouro, a construção da Fonte da Bi-quinha. Diz o Auto de arrematação - "que se acha da outra banda junto ao bar-ranco que vem das casas do sargento-mor José Joaquim da Costa Gouvea". O frontispício do chafariz deveria ser como o do Matola, apresentando duas bicas, tudo "de pedra de cantaria lavrada". O chafariz ficava perto do Estádio do Minas Futebol Clube. A Fonte da Biquinha ou Bica do Guarda-mor recebeu reparos, por parte da Câmara Municipal, em 1758. Foi feita "uma parede com duas bicas para sair água". [hoje está desativada pois diz-se que a água está contaminada]

RUA ALFREDO LUIZ RATTON (1878-1945) - O patrono da rua era filho de Carlos Próspero Ratton e de Carolina Gabriela de Oliveira Ratton.

Casou a 25-6-1898 com Dª Maria Carlinda Mourâo, filha de João da Silva Mourão e de Dª Carlinda Mecia de Aquino. Nome antigo - Beco do Telefone. No local funcionou a sede da Empresa de Telefones Urbanos desta cidade, fundada em 1912.

RUA AURELIANO MOURÂO - Reverencia a memória do adv. sanjoanense Dr. Aureliano Martins de Carvalho Mourão, nascido a 25-7-1846, filho das segundas núpcias do Com. João Antônio da Silva Mourão com Ana Teresa de Jesus. Pai do Ministro João Martins de Carvalho Mourão, que deu o nome ao Fórum de São João del-Rei. Dr. Aureliano foi o organizador e 1° Presidente da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Foi deputado Provincial e Deputado Federal. A rua era conhecida anteriormente com o nome de Beco do H.

RUA SANTA TERESA - Antiga Rua das Mônicas. A 2~5-1819 foi passada a escritura de compra e venda de "duas moradas de casas, unidas, uma na Rua de São Miguel e outra na Rua das Mônicas", pelo preço de 200 mil réis. A compra-dora foi Ana Luiza do Vale, aparecendo como vendedor Carlos Maria Deschamps. O prof. Samuel Soares de Almeida também cita a antiga Rua das Mônicas em suas anotações históricas sobre São João del-Rei (inéditas). O Com. José Antônio Ro-drigues menciona, em 1859, a Rua Santa Teresa.

RUA PREFEITO NASCIMENTO TEIXEIRA - Relembra o industrial José do Nascimento Teixeira (1875-1943), que foi Prefeito de São João del-Rei. Exerceu a presidência da Câmara Municipal, da Associação Comercial e da Sociedade de Concertos Sinfônicos (1° presidente). Nomes antigos - Chácara do Segredo, Córrego do Segredo e Rua do Segredo. O nome passou a denominar a todo o bairro dos mais prósperos e valorizados desta cidade. Existe a lenda de que foi praticado ali crime de morte, cujo autor intelectual, poderoso, determinou que os seus escra-vos guardassem segredo da ocorrência. Daí, teria surgido o nome. O córrego do Segredo, que corta a chácara do mesmo nome, foi canalizado e soterrado, até o córrego do I.enheiro. A chácara do Segredo, que era sitiada por detrás da Igreja de São Conçalo Garcia, foi adquirida em 1821 pelo padre José Mendes dos San-tos, irmão do Alferes Tomaz Mendes dos Santos. O Pe. José ingressou 13-11-1814 na Irmandade do SS. Sacramento da Matriz do Pilar. A Chácara de-pois passou a pertencer, sucessivamente, a diversos proprietários, conforme do-cumentamos na Revista n° 1 do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, de 1973. Em 1933 o Cel. José do Nascimento Teixeira adquiriu a chácara pela importância de "vinte contos de réis", à vista. A chácara foi entregue aos cuidados do engenheiro agrônomo José Vitor Barbosa, que passou a residir no antigo sobrado. Cultivou com êxito milho, feijão, algodão, trigo, batata, moran-gos, flores, frutas cítricas, cana e mandioca. Mais tarde, Dr. Vitor loteou a Cháca-ra, encarregando-se, também, da venda dos primeiros terrenos. O Prefeito Padre Oswaldo da Fonseca Torga abriu a Avenida Nossa Senhora do Pilar, propiciando o desenvolvimento do bairro.

RUA PADRE FAUSTINO - Rua antiga. Morava no local conhecido pelos nomes de Chácara do Padre Faustino ou Bica da Prata, o padre português Faustino da Silva Rocha, falecido em São João del-Rei a 10-10-1804: ordenou-se em Mariana a 24-9-1762; entrou em 1761 na Irmandade do SS. Sacramento da Matriz do Pilar. Em 1742 já era conhecida a Fonte ou Água do Padre Faustino. A 7-10-1859 Au-reliano Dias Raposo, por "450$000", comprou propriedade de João Nepomuceno de Arvelos. Informa a escritura de compra e venda: "Uma chácara com casas tér-reas de vivenda cobertas de telha, situada na paragem denominada Bica da Prata, vulgarmente conhecida pelo nome de Chácara do Padre Faustino, compreendendo um pasto fechado de vau por um espigão acima, dividindo com terras do falecido comendador João Batista Machado pela parte do norte e pelo nascente com o córrego de água natural do Barro Vermelho dentro da mesma chácara, compreende também terras de minerar com três vertentes...

RUA MODESTO DE PAIVA - Já teve o nome de Fura-Olho. Patrono da rua - o poeta conterrâneo Antônio Modesto de Paiva (1845-1904).

"A Pátria Mineira", ed. de 11-9-1890, cita a Rua Fura-Olho.

RUA VISCONDE DE ARAXÁ - Dr. Domiciano Leite Ribeiro (1812-1884) - poeta, jurista e escritor. Sanjoanense muito ilustre, foi Deputado à Assembléia Provincial de Minas Gerais e Deputado à Assembléia Legislativa do Império. Pre-sidiu as Províncias de Minas Gerais e de São Paulo. Exerceu a Presidência da Câmara Municipal de São João del-Rei. Nome antigo da rua: Rua do Fogo. Possuía extensa chácara na Rua do Fogo, onde morava, o padre sanjoanense Francisco de Paula Machado, que se ordenou em Mariana em 1825. Por "480$000" José Teodoro Damaso comprou, em 1878, morada de casas situadas à Rua do Fogo. Em setembro de 1890 foram publicados os locais de votação, escolhidos de acordo com a residência dos eleitores. Na relação aparece o nome da Rua do Fogo.

BETUME - Ficava nas proximidades da igreja Matriz de São José. Em 20-2-1806 foi aberto o testamento de João Tavares do Couto, que em 1786 foi Tesoureiro da Irmandade da Boa Morte. Residia na Chácara do Betume. Acórdão de vereança de 1821 faz referência à Estrada do Betume e ao Morro do Cascalho - "antiga estra-da e servidão pública". Os moradores do Betume votavam, em 1890, no edifício da Intendência, na sala dos fundos. Existiu no local o Cruzeiro do Betume.

RUA COMENDADOR COSTA - Deu nome à Rua o comendador José da Costa Rodrigues, falecido aos 82 anos de idade a 2-8-1911. Português, veio para o Bra-sil muito jovem. Benfeitor da Santa Casa da Misericórdia, do Colégio nossa Se-nhora das Dores e da ordem de São Francisco. Antes tinha o nome de Rua das Mangueiras, que foi aberta em 1892, por José Ramalho Pinto em sua chácara. Na Rua das Mangueiras ocorreu, há mais de 75 anos, o bárbaro assassinato de um fi-lho menor do capitão Helvécio Besouchet, acontecimento muito raro, naquele tempo, em São João del-Rei.

RUA SEBASTIÃO SETTE - O prof. Sebastião Rodrigues Sette e Câmara exerceu nesta cidade o magistério, fundou e dirigiu "A Pátria Mineira", jornal repu-blicano. Natural de Santa Cruz do Escalvado (MG), residia em sua chácara em Matozinhos. Era sogro do Dr. Paulo de Resende Campos. Faleceu a 11-1-1921. A rua teve antes o nome de Rua Nova, conforme documenta escritura lavrada em 1826. No mesmo ano a Câmara da Vila de São João del-Rei mandou fazer servi-ços na calçada e no muro da Rua Nova, "que vem da Rua do Curral (atual Mare-chal Deodoro) para o Largo do Carmo". Prolongou-se depois a rua até a Av. Tan-credo Neves.A Rua Nova é citada nas "Notícias Cronológicas do Município" - publi-cadas em 1859 (o.c.)

RUA EDUARDO MAGALHÃES - Evoca o nome do advogado Dr. Eduardo de Almeida Magalhães Sobrinho (1851-1930), benfeitor da Santa Casa e da Capela de Nossa Senhora das Dores, pertencente à Santa Casa.

Nome anterior: Rua dos Voluntários. O Com. Custódio de Almeida Ma-galhães anotou num livro de anotações familiares, com relação à filha Eponina; "Faleceu na casa da Rua da Prata, esquina de Voluntários, onde resido, a 25-4-1883". No referido prédio, totalmente restaurado, está sendo ultimado o "Mernorial Tancredo Neves".

PRAÇA DR. PAULO TEIXEIRA - Dr. Paulo dos Passos Teixeira nasceu nesta cidade em 1867. Formou-se em Direito na Faculdade de Direito de São Paulo em 1892. Exerceu a Promotoria em Itapecerica, Bom Sucesso e São João del-Rei. Presidiu a Câmara Municipal de São João del-Rei. O nome anterior era Rua da Cruz. Em 1914 foi demolido o quarteirão entre as ruas São Miguel (atual Resende Costa), Vigário Amâncio e Dr. Paulo Teixeira, surgindo a Praça Dr. Paulo Teixeira, que o povo gosta de chamar pelo nome de Largo da Cruz. Já desfilou nos carnavais sanjoanenses a Escola de Samba Largo da Cruz, o que demonstra a popularidade do nome.

Existe na Praça uma cruz antiga, colocada na parede externa de uma residência. A referida cruz encontrava-se, em determinada época, em péssimo estado de conservação, o que inspirou a um poeta a expressão seguinte: "cruz carunchada de saudades". O Com. José Antônio em sua obra histórica, de 1859, relaciona a Rua da Cruz entre as 24 ruas de São João del-Rei

CAJANGÁ - Ficava nos fundos da igreja de Nossa Senhora do Carmo. O nome figura numa relação de ruas da cidade, publicada em 1877. Também aparece numa relação dos locais de votação para as eleições de 1890.

RUA DA ALEGRIA - Em 1880 Augusto Frederico Muller vendeu casas na Rua da Alegria, que já existia em 1877. Também o Com. José Antônio Rodrigues, e sua obra já citada, de 1859, relaciona a rua da Alegria. Em 1883 a Câmara deu o nome de Tiradentes à Rua da Alegria. Também a Praça Dr. Salatiel já possuiu o nome de Praça Tiradentes. A Rua Tiradentes passou a Ter o nome de Marechal Bitencourt. A Atual é importante Avenida Tiradentes, que não é antiga, será estudada em outra ocasião, o mesmo acontecendo com numerosas ruas de minha terra natal.

Em várias ruas de São João del-Rei notam-se constantes mudanças de nomes, dificultando, em muitos casos, o levantamento da toponímia. Há alterações de nomes de trechos de várias ruas. Muitos homenageados em placas de ruas são completamente desconhecidos até dos moradores mais antigos da cidade.

PRAÇA DOS EXPEDICIONÁRIOS - Antes ostentava o nome de praça dos An-dradas e Praça da República. A Lei Municipal nº 301, de 20-6-1914, deu o nome de São Gonçalo à rua que vai da Praça da República à Travessa do Pinheiro". Também já teve o nome de Rua do Co1égio. Em 1859 (cf. José Antônio Rodrigues - o.c.) havia a Praça e a Rua do Colégio. A 23-6-1894 faleceu à Rua do Colégio o Dr. Cândido José Coelho de Moura, engenheiro militar. Sabe-se que residia na Praça dos Andradas. O Alferes Clementino José do Carmo, irmão do Conselheiro Dr. Lourenço José Ribeiro, faleceu a 21-7-1874 e morava na Rua do Colégio. A Rua São Gonçalo acima citada tem atualmente o nome de Rua Padre José Pedro, em homenagem ao padre conterrâneo José Pedro da Costa Guimarães (1856-1920). Exerceu o magistério nesta cidade e residia à Rua da Intedendência.

RUA FREI CANDIDO - Homenagem ao caridoso frade que fundou o Albergue Santo Antônio - padre frei Cândido Wroomans (OFM). Também é conhecida pelo nome de Rua do Albergue.

TRAVESSA DA GRAÇA - Faz a ligação entre a antiga Rua São Miguel (Resen-de Costa) e praça Barão de Itambé. Em 1837 Francisco Joaquim de Santa Ana Matos hipotecou ao Cel. Martiniano Severo de Barros - "morada de casas sitas ao pé da Capela de Nossa Senhora da Graça, na Rua de São Miguel". Em 1849 a Câmara Municipal, na qualidade de proprietária do referido templo, deliberou de-moli-lo - porque o mesmo "ameaçava ruína". Para a efetuação da demolição hou-ve entendimentos com o Vigário da Vara. Os dados supra explicam a razão do nome.

RUA COMENDADOR BASTOS - Rua defronte do Colégio Nossa Senhora das Dores, reverencia a memória do Com. Antônio José Dias Bastos. Português, foi um dos fundadores da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Faleceu a 16-8-1886. Foi casado com Dª Francisca de Assis Moreira Bastos.

Deixou os filhos: Francisca, casada com o médico Dr. Cornélío Emílio das Neves Milward, e as médicos Antônio e José Moreira Bastos. Quando se fun-dou a Casa da Caridade, em 1783, o estabelecimento também era conhecido pelo nome de Hospital, originando-se o nome Rua do Hospital. A 31-14-1816 Provisão Régia confirmava a criação da Santa Casa da Misericórdia. A 21-1-1817 fundou--se a irmandade da Santa Casa da Misericórdia. As explicações mostram por que até 1816 os documentos mencionam a Rua do Hospital.

Depois passou-se a usar a denominação de Rua da Misericórdia ou Rua da Santa Casa. Em 1798 o mestre-pedreiro Aniceto de Souza Lopes arrematou a construção da ponte de pedra da Rua do Hospital. A ponte foi soterrada com a remodelação da citada rua. Localizava-se no ponto de junção da moderna Avenida Nossa Senhora do Pilar, Rua Comendador Bastos e Praça dos Expedicionários. O Com. José Antônio Rodrigues refere-se, em 1859, à Rua da Misericórdia; também consta o referido nome na relação de ruas da cidade, publicada em 1877, na im-prensa local. Sabe-se que a região da Santa Casa era conhecida antigamente com o nome de Aterrado.

RUA D. SILVÉRIO - nome anterior: rua das Forras, que já aparece em 1877. O nome consta da relação de ruas de 1890, que indicava locais de votação dos eleitores da cidade. Patrono: o Bispo D. Silvério Gomes Pimenta, antecessor de D: Helvécio Gomes de Oliveira, na Arquidiocese de Mariana (MG).

RUA RODRIGUES DE MELO - O titular da tua é o prof. Antônio Rodrigues de Melo, lecionou português e latim. Escreveu várias peças teatrais. Faleceu em 1915. A Lei Municipal n° 436, de 26-2-1924 deu o nome de Rodrigues de Melo à Rua do Maquiné. A 3-6-1797 a Câmara de São João del-Rei resolve atender as queixas "dos povos sobre a chácara ou cercado que Antônio José de Abreu estava fazendo no local denominado Maquiné, encerrando dentro da dita chácara uma fonte pública que no mesmo lugar se acha, e donde a maior parte dos povos da-quela paragem e do coração da Vila concorrem a ir buscar água. Em termo de vereança de 15-10-1821 há referência ao requerimento do Cap. João Batista Ma-chado "sobre os inconvenientes que resultam ao público pela tapagem das águas de enxurradas que vertem do Maquiné". O povo gosta de repetir os singelos ver-sos seguintes:

"Quem bebe água do Maquiné
Daqui não arreda o pé".

RUA MANOEL ANSELMO - Homenagem a Manoel Anselmo Alves de Oliveira (1853-1923). Nome anterior: Rua do Paissandú. Com o nome de Paissandú era muito extensa, pois abrangia as atuais mas Manoel Anselmo - Presidente Tancre-do Neves e Paulo Freitas. Em "A Pátria Mineira , n- 130, de 6-11-1891, Custó-dio de Oliveira "Participa aos amigos que abriu, em frente da Estação da Estrada de Ferro, à Rua Paissandú, um Hotel com a denominação de Hotel Brasil. Antônio José Maximiano, em "A Pátria Mineira", ed. de 12-5-1892, anunciava a sua oficina de seleiro e colchoeiro, situada à Rua Paissandú n° 32 - "quase em frente da Estação Ferroviária".

RUA JOSÉ NARCISO DA SILVA - nome recente. Nome anterior: Rua Cristóvão Colombo, nome dado em 1898 à Rua dos Italianos.

RUA JOSÉ LEITE DE ANDRADE - Antes era Rua Engenheiro Bicalho, homenagem ao Dr. Francisco de Paula Bicalho (1847-1919), uma das glórias da enge-nharia nacional e sanjoanense nato de grande méritos. Recebeu homenagens pú-blicas em diversas cidades brasileiras. O nome do Dr. Bicalho foi deslocado para uma rua mais afastada do centro urbano.

RUA JOÃO JACOB - Antes era Rua Tiradentes (trecho). Não se trata da atual Avenida Tiradentes. Relembra o negociante João Sewaybricker (1840-1923), na-tural de Sorocaba. Como vereador foi um dos responsáveis pela demolição do Aqueduto do Chafariz da Legalidade, que existia na Praça Severiano de Resende.

RUA ALEXINA PINTO - Nome dado à parte da Rua do Recreio pela Lei Muni-cipal n°- 436, de 26-2-1924. A homenagem distinguiu com justiça a professora Alexina de Magalhães Pinto (1870-1921), pioneira em esdos de problemas educa-cionais e folclore. Publicou vários livros. Em 1893, depois de memorável concur-so público, conquistou a Cadeira de Desenho e Caligrafia da antiga Escola Nor-mal de São João del-Rei. A Rua do Recreio era muito extensa. A Lei Municipal n-° 261, de 4-1-1912 menciona a chácara denominada "Dona Maria Teresa", situada à Rua do Recreio, que seria adquirida pela Câmara Municipal para a instalação do Albergue Santo Antônio.

PRAÇA CARLOS GOMES - homenagem prestada ao maestro Antônio Carlos Gomes (1836-1896), figura de projeção internacional.

RUA HERMILO ALVES - Rua que vai da Ponte da Cadeia até a Estação ferro-viária. Patrono da rua: Engenheiro Dr. Hermilo Cândido da Costa Alves, falecido em 1906. Atuou com abnegação nos serviços para o 1°- abastecimento de água potável de São João del-Rei. Como engenheiro da Estrada de Ferro Oeste de Mi-nas revelou excepcionais méritos profissionais. Já teve o nome de Rua dos Vo-luntários, que ia até a Ponte do Rosário. Em novembro de 1881 a Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia anunciava a venda de terrenos na Rua dos Voluntários, esclarecendo - "rua que vai para a Estação da Estrada de Ferro". Também era mencionada como Rua da Estação.

RUA DO CARMO - Nome antigo, consta da relação publicada em 1859 pelo co-mendador José Antônio Rodrigues (o.c.)

RUA PAULO FREITAS - Homenageia o Dr. Paulo Freitas de Sá, que presidiu a Câmara Municipal desta cidade, tendo sido um dos Diretores da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Dr. Paulo Freitas (1846-1909) emprestou valiosa cooperação nas obras do 1-° abastecimento de água potável desta cidade. O nome da Rua Paulo Freitas foi dado em 1890, por proposta do vereador cônego Francisco de Paula da Rocha Nunan. Na Rua Paulo Freitas funcionava em 1908 a Casa de Banhos, de propriedade de José de Ataíde Júnior.

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