MATOZINHOS - O antigo bairro de Matozinhos cresceu sobremaneira, originando vários bairros e dezenas de ruas. O bandeirante paulista Tomé Portes del-Rei, o fundador de São João del-Rei, foi assassinado por escravos em 1704. Muito antes Tomé Portes se estabelecera no local, o conhecido Porto Real da Passagem, como proposto reinol para a cobrança de impostos para o Erário Real. Fixara-se em Matozinhos ou perto de Matozinhos com a família, com amigos e escravatura, iniciando-se ali, o primeiro núcleo populacional que deu origem ao Arraial Novo do Rio das Mortes, depois Arraial de Nossa Senhora do Pilar. Pode-se afirmar categoricamente que São João del-Rei teve o seu começo em Matozinhos, graças à atuação pioneira de Tomé Portes del-Rei. A 15-2-1709, época de grande turbulência no Arraial Novo, invadido por numerosos forasteiros em busca do ouro, os paulistas foram derrotados no chamado "Capão da Traição", situado nas proximidades de Matozinhos. Teria havido matança de prisioneiros. A ereção da Capela de Matozinhos, fator de progresso do local, foi autorizada por Provisão de 6-9-1771. Seu Patrimônio foi doado pelo vigário de Nossa Senhora do Pilar, padre Dr. Matias Antônio Salgado, que já se encontrava no exercício do cargo quando faleceu o Rei de Portugal (1750) D. João V. O padre Matias foi um grande benfeitor do bairro, dos mais progressistas de São João del-Rei.
Em 1771 o Senado da Câmara notificou, em edital, aos possuidores de terras na Vargem do Porto Real, a apresentação à Câmara de São João del-Rei dos documentos de posse das mesmas. Pretendia-se edificar na citada vargem a Capela do Senhor do Matozinhos.
Francisco Ribeiro Mendes em 1774 enviou requerimento à Câmara tendo em vista o aparecimento de supostos proprietários. O peticionário desejava am-pliar suas terras ali, mandando fazer tapumes. Houve reação dos interessados, que apresentaram títulos de propriedade das terras pretendidas. Ribeiro Mendes alegou "no tempo em que os donatários requereram terras na mesma paragem já estava de posse das suas". Suas terras compreendiam, ainda, "todo o vão que hoje serve de área à Capela do Senhor de Matozinhos, e que no tempo de sua concessão nem havia a Capela que se fez posterior, nem casas algumas". A Câmara decidiu que Francisco Mendes não fizesse outras tapagens, "sob pena de ser preso". Diz o Termo de Vereança (1774): "E atendendo a esta Capela do Senhor de Matozinhos edificada em grande tortura, o que é irremediável, devese formalizar já o terreno e a rua em forma que a indireitam para formosura dela e trajeto público". Ribeiro Mendes faleceu a 7-8-1790, sendo sepultado dentro da Capela de S. Francisco. Foi síndico da Ordem de São Francisco de Assis.
Em março de 1774 casaram-se na Capela do Senhor do Matozinhos, Manoel da Costa Vilas Boas, filho do capitão Manoel da Costa Vilas e de Quitéria Inácia da Gama, com Maria Vitória Joaquina de Freitas, batizada na Freguesia de São João Batista de Cartarxo, da cidade de Lisboa.
Em 1774, como vimos, a Câmara de São João del-Rei reuniu-se para estudar problemas sobre propriedades de terras (já havia especulação imobiliária, na época) "na paragem da Vargem da Água Limpa, Capela do Senhor de Matozinhos". Alguns interessados apresentaram títulos de propriedade de terras, passados pela Câmara em 1770. A 2-10-1780, na Capela do Senhor de Matozinhos, casou-se Antônio Ribeiro Carvalhais, filho de Manoel Jorge e de Maria Ribeiro, batizado na Freguesia de S. Tiago de Carvalhais, Conselho de Laxões, Bispado de Vizeu, com Ana Maria de Matos, filha de Domingos Correa da Costa e de Maria de Matos, batizada na Freguesia do Pilar. Os nubentes são pais de Clementino José do Carmo e do ilustre sanjoanense Conselheiro Lourenço José Ribeiro, 1° Diretor dos Cursos Jurídicos de Pernambuco. São parentes do acadêmico conterrâneo general Carlos de Oliveira Ribeiro Campos.
A 17-11-1784, "na Capela de Matozinhos da Vargem do Porto desta Vila", realizou-se o casamento do maestro Alferes Lourenço José Fernandes Brasiel, ancestral do advogado sanjoanense Dr. Nilo Braziel do Vale, com Dª Ana Pimenta Severina Chaves.
Na Festa do Senhor Bom Jesus de Matozinhos de 1789, Manoel Moreira estabeleceu-se com taberna, coberta de capim, no Largo de Matozinhos. Na citada taverna houve conversas de romeiros que "comprometiam" os interlocutores, ouvidos em devassa, em conseqüência da Inconfidência Mineira. Uma das testemunhas, o sargento-mor Joaquim de Souza Câmara, moço fidalgo da Casa de Sua Majestade, foi inquirido a 17-9-1789. A 13-4-1793 faleceu Domingos Alves de Araújo, Ermitão da Capela do Senhor de Matozinhos. A 23-3-1802 Bernardo José de Lorena, Governador da Capitania de Minas, concedeu a Manoel Gomes de Almeida Coelho (faleceu a 28-9-1838) a patente de capitão da Cia. de Ordenança do Novo Distrito da Capela do Senhor de Matozinhos, de Vila de São João del-Rei. Ingressou na Irmandade do SS. Sacramento a 12-6-1804. A mesma autoridade a 10-5-1802 nomeou para o posto de alferes do citado Distrito Clementino José Ribeiro Carmo. A 12-9-1810 foi aberto o testamento do mestre-de-campo Inácio Correa Pamplona, que residia em Matozinhos. Foi o 3° denunciante dos Inconfidentes mineiros. Foi grande sertanista e latifundiário. A 1-5-1811 o padre Pamplona Corte Real vendeu u'a chácara grande, toda murada e valada, com terras de cultura, arvoredos e mais plantas, situada no Arraial de Matozinhos da água Limpa, "subúrbio de São João del-Rei", à Maria Angélica de Sá Menezes, viúva do Cel. Carlos José da Silva, pais do Barão de Pouso Alto.
Durante mais de um século o bairro de Matozinhos notabilizou-se pelas animadas festas do Divino Espírito Santo. Cresceu a devoção ao Senhor Bom Jesus de Matozinhos e as festividades atraíram romeiros de várias localidades.
O bairro de Matozinhos ufanava-se de suas numerosas e bem cuidadas chácaras, refertas de árvores frutíferas.
BECO DO COTOVELO - A chamada Travessa Dr. Paulo Teixeira, que liga a Praça Dr. Paulo Teixeira à Praça Barão de Itambé, já exibe numa placa o seu nome antigo: Beco do Cotovelo. A rua apresenta a forma de um cotovelo, quase em ângulo reto.