Os visitantes de São João del-Rei, muito se admiram da solidez e tamanho das pontes de pedra, principalmente pelo pouco volume das águas do pacato córrego do Lenheiro. Por que essa cautela e exagerado aparato de segurança?
Belo trecho de Carlos de Laet, em seu livro "Em Minas" dá resposta a essa pergunta:
"Quem olha para o riacho, minguado em água, mal compreende porque tão elevadas se fizeram essas arcarias, porém mal raciocinaria quem condenasse por inútil a luxuosa cautela dos construtores. O ribeiro, por ocasião das enxurradas, faz-se torrente e mesmo rio. Em sua carreira vertiginosa arrebataria obstáculos que com menos resistência lhe afrontassem o ímpeto... Imagem verdadeira de um povo pacífico, cuja força mal se deixa suspeitar, mas contra quem, nos seus grandes momentos de cólera, todas as preocupações não podem ser demasiadas."
O Córrego do Lenheiro foi uma das causas da atual localização de São João del-Rei; pois subindo seu leito, à procura do ouro, os primeiros habitantes foram se localizando às suas margens e subindo as encostas onde, pela primeira vez, tiravam ouro em seus morros, mesmo à flor da terra. Ele dividia a cidade em duas partes - Matriz e São Francisco.
Anualmente duas ou três grandes enchentes fazem com que este pequeno córrego se avolume extraordinariamente, ocupando por algum momento todo o espaço entre os cais. As enchentes, felizmente, são rápidas.
Há uns 5 ou 10 anos a água das enchente começou a transbordar e administração foi alertada: em todas as cheias a terra vai sendo acumulada em cima da grama do cais; referindo-se à terra do lado do canal por onde passa a água, em alguns pontos a terra está mais de dois metros mais alta do que era quando foi construído o cais. No final do ano passado (1997) o prefeito colocou uma retro-escavadeira para tirar o excesso de terra e já criou montanhas de terra com mais de 10 metros de altura! Eu espero que isto acabe com as enchentes to tejuco.
A página sobre o Córrego do Lenheiro foi baseada na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, págs. 80-81. Consulte a bibliografia para uma lista completa.