Irmandades de São João del-Rei



No século XVIII foram fundadas várias irmandades religiosas. A primeira a ser criada foi a de N. S. do Rosário e São Benedito "dos homens pretos", em 1708, que possivelmente praticava o culto na capelinha primitiva de N. S. do Pilar, pois não se tem notícia de outra no arraial.

Na reconstrução do Arraial Novo, incendiado na Guerra dos Emboabas (1709), trataram os moradores de levantar, como era de costume, a igreja, agora fora do corpo do povoado, criaram a Irmandade do Santíssimo Sacramento, o que se deu em 1711. Os homens mais simples e humildes, sem status para se filiarem à Irmandade do Santíssimo Sacramento, organizaram a Irmandade de São Miguel e Almas, também com sede na Matriz do Pilar, em 1716."

Em 1727 já funcionava na Matriz do Pilar a Irmandade de N. S. do Carmo, que somente em 1734 possuiria capela própria. Ainda em 1734 tem-se a notícia da Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos - como nas anteriores, sediada na Matriz.

Em 1786, há referência à Irmandade de N. S. da Boa Morte, agremiação dos homens pardos, que também funcionava na Matriz. Essa irmandade teve intenções de construir capela própria e para isso adquiriu um terreno, que terminou sendo vendido em 1828. Nessa área foi construído um prédio para funcionamento da Câmara e da cadeia hoje sede da Prefeitura.

A patente de fundação da Ordem de São Francisco de Assis da Penitência é do ano de 1749.

Não encontramos registro especifico do ano da fundação da Irmandade de N. S. das Mercês, sem dúvida, é anterior a 1750, pois nesse ano já existia a capela.

A primeira informação sobre a Irmandade de São Gonçalo Garcia, dos pardos forros e cativos, é de 1772. Um fato curioso sobre as atividades dessa irmandade era o interesse pela alforria de escravos, mediante indenização aos respectivos proprietários. Sobre o assunto há um documento interessante, datado de 1785 - uma representação à rainha D. Maria I.


Que sendo os indivíduos de que se compõe a dita irmandade de mulheres e homens pardos, e destes uma grande parte escravos e sendo a Liberdade de Direito Natural, não parece conforme a razão, que muitos dos ditos irmãos, podendo dar o justo valor, estejam em perpétuo cativeiro, pela razão de não quererem os respectivos senhores receber o preço, para lhes dar, ou antes, vender a liberdade (apud Barbosa, 1972, p. 113)


Vê-se que a Irmandade de São Gonçalo, além das atividades religiosas, tinha também envolvimento com os problemas sociais. A Irmandade de São Miguel e Almas, por sua vez, prestava benefícios à população carente, contratando médicos e boticários para atendimento aos pobres de se observar que enquanto essas irmandades, integradas por gente simples e de parcos recursos, se preocupavam com seus semelhantes menos favorecidos, outras, melhor situadas social e economicamente, tinha interesses menos nobres: posição de destaque nas procissões, sepultamentos em covas condignas em suas igrejas - na Capela-mor, preferencialmente junto ao altar, pelo menos, no arco-cruzeiro - e outras honrarias.

Os diversos grupos humanos se agregaram de acordo com suas afinidades e interesses: os pretos cativos, na Irmandade de N. D. do Rosário e São Benedito; na de São Gonçalo Garcia, os pardos forros ou escravos; na N. S. da Boa Morte, também os pardos; na de São Miguel e Almas, os brancos das classes mais humildes. Finalmente, no topo da escala social, os brancos mais bem aquinhoados pela fortuna ou pela posição na comunidade integravam as irmandades do Santíssimo, de N. S. do Carmo e de São Francisco de Assis. Essa discriminação por classes nas diferentes irmandades tornou-se regra - senão escrita, pelo menos por tradição ou preconceitos arraigados - e varou os séculos. Ainda hoje, se bem que com menor rigor, prevalece.

É de oportunidade uma referência às vezes usadas pelos irmãos nas cerimônias religiosas e nos enterros. Não há registros precisos sobre o assunto, relativos aos primeiros tempos; sabe-se que, até os dias de hoje, os irmãos do Santíssimo usam opas vermelhas, os dos Passos, roxas e os de São Miguel e Almas, verdes. As demais irmandades, a partir de certa época (não muito bem definida), passaram a usar hábitos talares (túnicas longas) e capas de feitio variado, em cores que identificam cada agremiação. Essas vestes, principalmente nas procissões, proporcionavam um cenário de grande efeito pictórico que impressionava vivamente, em particular àqueles que as assistiam pela primeira vez - notadamente aos turistas, pela raridade do espetáculo, com certeza apenas podendo ser admirado em São João del-Rei. Por razões de economia (devido aos altos preços dos tecidos e confecções) e por resoluções de autoridades eclesiásticas os hábitos talares foram, nos últimos anos, substituídos pelas opas. Somente os irmãos de São Francisco não renunciaram ao uso do tradicional hábito preto.

GUIMARÃES, Geraldo. São João del-Rei - Século XVIII - História sumária. 1996, pág. 77, 78, 79, 80.

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