Tomé Portes del-Rei, descendente de tradicional família originária de Portugal, segundo o genealogista Silva Leme (1903) "nobreza comprovada" e com um ramo radicado no Brasil desde 1562, foi o primeiro povoador do Rio das Mortes e o responsável pela fundação do arraial que deu origem a São João del-Rei.
Residente na Vila de Taubaté, de lá partiu com familiares, agregados e escravos, quando do rush para as minas recém descobertas, em ano incerto e não sabido, mas provavelmente quando da vinda do governador Artur de Sá (1700) ou pouco antes. Estabeleceu-se na margem esquerda do Rio das Mortes, onde hoje se situa Matosinhos, junto ao Caminho do Sertão (mais tarde chamado Caminho Velho).
Tomé Portes promoveu o plantio de roças de mantimentos, criação de animais de pequeno porte, pouso para os viajantes e canoas para a travessia do rio. O local ficou sendo conhecido como Porto Real, Porto Real da Passagem e ainda hoje é denominado Porto. Era um posto de reabastecimento num caminho onde o ir e o vir eram constantes e intensos. Um sertanista contemporâneo registrou:
[...] situando-se na mesma passagem [Tomé Portes] viveu anos, de fabricar mantimentos para vender aos mineiros, que passavam para as minas, ou voltavam para os povoados, fazendo neste negócio altíssimas fortunas [...] (Mendonça apud Taunay, 1981 p. 46).
Por volta de 1702, orientado possivelmente por João de Siqueira Afonso, experimentado minerador, Tomé Portes encontrou ouro num córrego na margem direita do Rio das Mortes acima. Ali estabeleceu um segundo povoado, com a denominação de Arraial de Santo Antônio, mais tarde conhecido como Arraial Velho e elevado a vila - Vila de São José del-Rei (Tiradentes). Foi o primeiro ouro descoberto na região. Tomé Portes foi nomeado guarda-mor. Logo depois desses fatos, foi morto por alguns de seus escravos - "[...] suas amas e pagens o mataram" - segundo relato da época (apud Taunay, 1981, p. 82).
Tendo sido comprovadamente o responsável pelo estabelecimento do primeiro núcleo de povoamento na margem esquerda do Rio das Mortes, Tomé Portes del-Rei, apesar de falecido antes da existência do Arraial Novo, é incontestavelmente o fundador de São João del-Rei. Seu povoado na vargem do rio e o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar desenvolveram-se e, com o passar dos anos, tornaram-se a São João del-Rei de hoje.
Com sua morte, seu genro Antônio Garcia da Cunha foi nomeado guarda-mor do distrito e certamente assumiu a direção dos trabalhos do núcleo do Porto Real. Posteriormente, com os descobertos do ouro nas encostas do Morro das Mercês e do Ribeirão São Francisco Xavier, procedeu á distribuição e demarcação das datas. Os únicos destaques que se pode dar a Garcia da Cunha são os de ter sido genro de Tomé Portes e atuado como guarda-mor. Não há nenhuma registrada referência de sua participação na fundação do Arraial Novo. Na verdade, logo depois desapareceu, sem deixar rastro na tradição são-joanense. Atribuir a essa personagem o titulo de fundador de São João del-Rei, como já foi anteriormente tentado, é uma agressão à historia.
GUIMARÃES, Geraldo. São João del-Rei - Século XVIII - História sumária.
1996, págs. 99, 100.